Esta data no Evangelho (30 de agosto)

Francisco Muniz



Sob o título "Filipe batiza um eunuco", o versículo 30 do capítulo 8 do livro Atos dos Apóstolos dá ensejo ao comentário deste dia 30 de agosto, no âmbito de nosso programa de estudos em torno de algumas passagens do Novo Testamento sob as luzes da Doutrina Espírita, para o qual utilizamos a Bíblia de Jerusalém. O citado versículo informa o seguinte:

"Filipe correu e ouviu que o eunuco lia o profeta Isaías. Então perguntou-lhe: "Entendes o que estás lendo?""

É essa pergunta do apóstolo de Jesus que nos interessa comentar. Antes, porém, expliquemos que a ação de Filipe, que mediunicamente recebera a ordem de ir à estrada em certo horário, justamente quando por ali passava a carruagem do tal eunuco, um alto funcionário da rainha Candace, da Etiópia, encarregado de administrar todo o tesouro da soberana. Embora etíope, ele era devotado ao Deus único e tinha ido a Jerusalém para adorar, sendo na viagem de volta que se deu esse encontro.
 
O eunuco, portanto, lia mas não compreendia os escritos do profeta Isaías e à pergunta de Filipe ele responde: "Como o poderia (ter o entendimento), se alguém não me explicar?" E então convida o apóstolo a subir e sentar-se com ele, que lia esta passagem da Escritura: "Como ovelha foi levado ao matadouro; e como cordeiro, mudo ante aquele que o tosquia, assim ele não abre a boca. Na sua humilhação foi-lhe tirado o julgamento. E a sua geração, quem é que vai narrá-la? Porque a sua vida foi eliminada da terra."

E assim Filipe começa a falar ao eunuco acerca da Boa Nova, porquanto ele não sabia a quem o profeta se referia, se a si próprio ou a outrem.

A pergunta de Filipe continua valendo nos dias que correm, uma vez que, malgrado o interesse a nos mover em direção à leitura, nem sempre detemos a faculdade de compreender o que lemos, o que os livros nos querem informar - e isto se aplica tanto às ciências ortodoxas quanto às obras filosóficas, principalmente em relação ao Evangelho (ou às Escrituras, de modo geral), para cujo entendimento o Espiritismo nos fornece a chave indispensável.
 
O fato é que ficamos durante muito tempo impossibilitados de compreender muitas das lições de Jesus, sofrendo, por isso, a imposição da fé cega, até que os Céus nos beneficiaram com a Terceira Revelação. Mas há muitos outros ainda distantes dessa possibilidade e são como o eunuco da passagem evangélica que ora abordamos: falta-lhes algo que permita compreenderem o que leiam e somos chamados a atuar junto a eles como fez Filipe, julgando que já tenhamos obtido o necessário conhecimento para disseminar as informações acerca do Cristo e sua doutrina.
 
A esse respeito, vale considerarmos a grande importância do Espiritismo, vendo-o como uma ciência auxiliar que nos permite compreender os meandros e filigranas das demais ciências, tendo em mente o aviso de Allan Kardec, para quem a Doutrina caminhará passo a passo com a Ciência, num esforço comum para o esclarecimento dos homens. Isso implica em desenvolvermos o discernimento para conseguirmos também separar o joio que cresce em meio ao trigo que é a literatura espírita, não nos deixando enganar com o que é mera produção mediúnica, quando muito, sem qualquer identificação com os princípios doutrinários.
 
Não é tarefa das mais fáceis para os espíritas, especialmente aqueles que estão chegando agora, porque não basta apenas termos o conhecimento, é imprescindível desenvolvermos a cultura espírita, sob pena de continuarmos comprando - ou, o que é pior, vendendo! - gato por lebre. Por tal razão é que o Cristo nos recomendou conhecermos a verdade que liberta e o Espírito de Verdade nos exorta a instruirmo-nos.

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