Esta data no Evangelho (3 de agosto)

 Francisco Muniz



O capítulo 8 inicia a segunda parte da Epístola de Paulo aos Hebreus e destaca a "superioridade do culto, do santuário e da mediação de Cristo sacerdote". Assim, o versículo 3, que comentaremos neste dia 3 de agosto, traz o seguinte texto:

"Todo sumo sacerdote, com efeito, é constituído para oferecer dádivas e sacrifícios; pelo que é necessário ter ele mesmo algo a oferecer."

Já vimos aqui que o Apóstolo dos Gentios procura, nesses escritos, divorciar-se do judaísmo que o formou doutor da Lei, quer dizer, um especialista na exegese das antigas Escrituras, tidas por sagradas. Despindo-se das vestes do homem velho, ele comprometia-se com o homem novo que deveria ser após assumir em definitivo sua adesão à proposta renovadora do Cristo.

Como o fariseu Saulo de Tarso, ele conhecia muito bem os meandros de sua religião, especialmente o tocante ao sacerdócio, função esta que, desde Moisés, estava sob a responsabilidade da tribo de Levi. Eram os levitas, portanto, que cuidavam dos ofícios e sacrifícios no Templo e nas sinagogas.

No entanto, após Jesus - e isto estava muito claro na mente arguta de Paulo -, já não faziam sentido, em termos gerais, as atribuições dos levitas, porquanto o Messias vinha estabelecer um sacerdócio baseado principalmente na oferta e no sacrifício de si mesmo. Ou seja: instituía-se o tempo e a condição para os homens se observarem sacerdotes eles próprios, tendo o corpo, ou a alma, como templo, e as atitudes de auto renovação como o sacro ofício a ser depositado aos pés do Altíssimo, no altar do coração.

Nesse capítulo, Paulo reafirma a autoridade de Jesus sobre os sacerdotes levíticos, revelando-o como Sumo Sacerdote da ordem de Melquisedec, antigo rei de Salém que cobrou dízimo de Abraão não em nome de sua realeza temporal, mas pela vinculação com a realidade divina.
 
Além de sacerdote, e principalmente por essa condição, o Cristo. segundo Paulo, é o mediador de uma aliança melhor que as anteriores, as que Deus (Javé) teria firmado com Abraão e, depois, com Moisés e tal entendimento corresponde perfeitamente com estas palavras de Jesus: "Ninguém vai ao Pai a não ser por mim", porquanto o Messias é o caminho da verdade e da vida (Pastorino [*] prefere esta forma).

Em Paulo, portanto, não resta dúvida alguma de que Jesus é mesmo o Anunciado pelas antigas profecias e tanto sua vida quanto seu trabalho messiânico revestem-se daquela autoridade moral e espiritual que somente os sumos sacerdotes dignos dessa denominação possuem, por serem representantes da Divindade na Terra ou em qualquer parte.


[*] Carlos Torres Pastorino, autor da obra Sabedoria do Evangelho (Ed. Sabedoria, RJ).

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