Esta data no Evangelho (27 de agosto)

Francisco Muniz



A Bíblia de Jerusalém nos apresenta hoje, dia 27 de agosto, um trecho assaz significativo tirado do mais místico dos evangelhos canônicos, o do apóstolo João. Falamos do versículo 27 do capítulo 8, que nos diz estas palavras do evangelista sobre o Mestre nazareno:

"Eles não compreenderam que ele lhes falava do Pai."

Esse trecho é parte do "Discurso sobre o testemunho que Jesus dá de si mesmo", afirmando saber de onde vem e para onde irá, ao passo que os judeus não o sabiam e mesmo nessa ignorância o julgavam.
Ele, o Messias, informara-os quanto a não ser deste mundo, pois provinha do Alto, e que para onde iria eles não poderiam ir. E mais: que eles morreriam em seus pecados, "porque se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados".

E perguntavam eles: "Quem és tu?" - e então o Cristo lhes falava de modo incompreensível: "O que vos digo desde o começo. Tenho muito que falar e julgar sobre vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro e digo ao mundo tudo que dele ouvi". Mas ainda assim eles não entenderam que era do Pai que lhes falava e por fim Jesus voltou a afirmar: "Quando tiverdes elevado (feito morrer) o Filho do Homem, então sabereis que EU SOU."

EU SOU (Emanuel, em hebraico) é, revela-nos a Bíblia de Jerusalém, "o nome divino revelado a Moisés e significa que o Deus de Israel é o único e verdadeiro Deus. Atribuindo-se esse nome a si mesmo, Jesus apresenta-se como o único e verdadeiro Salvador, para o qual tendiam a fé e a esperança de Israel ".
No entendimento de Carlos Torres Pastorino, os judeus de então jamais compreenderam que o Cristo era o mesmo Javé (ou Jeová) adorado pelo "povo escolhido" desde Abraão, desde Moisés, e que agora apresentava-se encarnado em meio deles. Compreenderiam que havia outro Deus acima de seu Deus, superior, portanto?

Talvez fosse por tal dificuldade de compreensão que o Catolicismo tenha feito, em seus exercícios exegéticos da Teologia, deificar Jesus, criando a misteriosa figura da Trindade, unindo três deuses num só, numa tentativa de escapar ou se conciliar com o politeísmo tão ao gosto da gentilidade. O fato é que, com novos nomes, Júpiter e sua corte do panteão romano continuaram entronizados, corrompendo a pureza da doutrina de Jesus.
 
Ainda se pensa que Jesus é Deus, embora divino ele o seja, pois vem do Pai e o representa junto a nós, sendo o Embaixador angélico que em seu nome nos aponta o caminho para bem depressa deixarmos a zona inferior em que nos encontramos, demandando as altas esferas onde reinam a felicidade e a paz.
Acordo neste novo dia com a lembrança da frase ouvida da boca do divino Pastor a inspirar-me neste trabalho, reparando que não foi ao acaso que abrimos a página joanina: "Eu os conduzirei ao inferno até o fim." Com efeito, para vencermos cada uma das etapas de nossa aventura "dantesca" (*), necessitamos do amparo do Mestre, nosso guia e modelo.

Em sua companhia, temos por certo que alcançaremos o portão de saída do labirinto infernal onde estagiamos momentaneamente, fazendo esforços que nos transformarão em lídimos representantes do Cristo junto a muitos irmãos que na retaguarda esperam nosso concurso fraternal, em nome do Eterno, daquele que É desde o início dos tempos.

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(*) Referência ao poeta italiano Dante Alighieri e à sua Divina Comédia.

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