Esta data no Evangelho (26 de agosto)

Francisco Muniz



“O endemoninhado geraseno” é título do trecho do Evangelho de Lucas que no capítulo 8 apresenta-nos o versículo 26 para nossos comentários, a partir da leitura da Bíblia de Jerusalém e sob a inspiração da Doutrina Espírita. Eis o texto destacado:

“Navegaram em direção à região dos gerasenos, que está do lado contrário da Galileia.”

Contextualmente, isso se deu após Jesus acalmar a tempestade, causando admiração entre os ocupantes do barco de Pedro. E foi por ordem expressa do Mestre que eles se dirigiram para a “outra margem” do lago de Genesaré, chegando então à região onde ficava a cidade de Gerasa, ou Gadara.

O evangelista diz se tratar do “lado contrário da Galileia”. Ora, levando em consideração a interpretação de Carlos Torres Pastorino em Sabedoria do Evangelho, a palavra Galileia significa “jardim fechado”, de modo que o lado contrário é exatamente fora do jardim, ou seja, o mundo com todo seu acervo de complexidades: bulício, vícios, perigos, ilusões...

Na continuação dessa passagem, Lucas registra que o Mestre e sua pequena comitiva foram defrontados por um homem da cidade, nu, “possesso de demônios” – assim, no plural –, o qual identifica Jesus e, gritando, caiu-lhe aos pés, pedindo para não ser atormentado. Interrogado, declarou se chamar “Legião”, tal a quantidade de espíritos inferiores a perturbá-lo.

A cidade é o mundo e viver no mundo é estar sujeito a toda sorte de perigos que nos ameaçam tanto a existência física quanto o equilíbrio psíquico, ocasionando distúrbios mentais de ordem espiritual que Allan Kardec denominou obsessões e classificou-as como simples, moderadas (fascinação) ou graves (subjugação ou possessão). Se fosse devidamente estudada pela medicina, seria a obsessão considerada, em vista dos casos que lotam as clínicas psiquiátricas e os hospícios, o “mal do século” em todos os períodos da história humana.

O relato de Lucas faz-nos compreender, contudo, que se trata de um mal cuja cura é possível desde que apelemos para o Cristo. Hoje, graças aos esclarecimentos do Espiritismo, sabemos não ser bastante o simples ato de “expulsar os demônios” que nos atormentam: é preciso ter autoridade moral sobre eles, que outra coisa não são senão os espíritos ignorantes, inferiores ou transtornados que veem suas pretensas vítimas como responsáveis por suas desditas e assim buscam a vingança ou a simples, mas amargurada, devolução do que pensam lhes devermos.

Ainda de acordo com as conceituações de Kardec em torno de tal problemática, toda obsessão começa numa auto obsessão, isto é, nós mesmos, adotando uma postura incompatível com os elevados objetivos da vida, criamos as condições propícias à atração dos Espíritos inferiores. E tal situação persistirá, como prova ou expiação, até que aconteça a aproximação do Cristo, cujo magnetismo poderoso nos fará – vítima e verdugo, cada qual a seu turno – ajoelhar aos pés do Filho do Altíssimo, quebrando o círculo vicioso que imantava opressor e oprimido.

É assim que melhor observamos a importância da recomendação de Jesus quanto a nos reconciliarmos depressa com nossos adversários enquanto estamos a caminho com eles, porque não sairemos dessa condição aflitiva até pagarmos tudo que devemos à Lei, centavo por centavo.

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