Francisco Muniz
Estamos hoje, dia 25 de agosto, com a Bíblia de Jerusalém
aberta no capítulo 8 da Epístola de Paulo aos Romanos, que em seu versículo 25
apresenta-nos o seguinte texto para nosso comentário sob as luzes da Doutrina
Espírita:
“E se esperamos o que não vemos, é na perseverança que o
aguardamos.”
O inefável, o indizível, o inominado. O que aguardamos
esperando com perseverança? Deus e seu Reino de Amor?
Ora, o título da parte da Carta aos Romanos que esse
capítulo inicia se intitula “A vida do cristão no Espírito” e começa com Paulo
afirmando que “não existe mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus”.
E há, portanto, muito o que se esperar vivendo a dimensão
crística em nós mesmos, na intimidade, na essência do Espírito imortal.
Esperamos, ao fim de tudo, nossa transformação espiritual num nível tal que
seja para nós a união definitiva com o Criador através da vivência
incondicional de sua imarcescível Vontade, o que, segundo o conceito de Jesus, representa
a Perfeição a ser buscada.
Para tanto, é imperioso sabermos cumprir os passos, as
disciplinas, os exercícios que nos capacitarão a esse completo estado de bem
estar espiritual chamado de Plenitude, significando toda a felicidade que se
possa almejar, coroando a longa série de aprendizados desde de fomos criados
pelas mãos compassivas do Pai amantíssimo.
É essa repetição de experiências que levam ao crescimento
espiritual, responsável pela paulatina mudança de hábitos, de crenças e de
comportamento, cada vez com maior amplitude da consciência, que representa a
perseverança aludida por Paulo e sugerida bem antes pelo Mestre Jesus, ao dizer
“aquele que perseverar até o fim será salvo”. Logicamente, não haverá
condenação para esse cristão.
Nesse capítulo, o Apóstolo dos Gentios pondera, com acerto,
que “ninguém espera o que vê” e essa ponderação remete à definição do Cristo
acerca da natureza do Reino dos Céus, ou de Deus: “O Reino não vem com
aparências externas, não o busqueis aqui ou ali.”
É o mesmíssimo conceito observado no livro A Divina
Presença, no qual seu autor, o baiano Élzio Ferreira de Souza, recuperando,
junto com seu mentor espiritual, Yogashririshnam, o pensamento do místico
espanhol João da Cruz: “Por mais anseie a alma enxergar o Divino, não o
consegue, pois o busca entre as expressões exteriores, e, quanto mais o faz,
ele parece mais escondido.”
Assim, para se permitir esse encontro com a Divindade, deve
a alma proceder de maneira diversa, como ensinou João da Cruz: “(...) Posto que
está em mim aquele que minha alma ama, como não o acho nem o sinto? A causa é
que ele está escondido, e não te escondes também para achá-lo e senti-lo.”
O que o místico espanhol propõe é que nos afastemos de tudo
que seja barulho, inquietação, agitação – expressões próprias da exterioridade –,
e nos refugiemos no silêncio, na calma e na intimidade de nós mesmos para que
possamos ter, por mínima que seja, a experiência elevada de uma epifania. Para
isso, porém, há um caminho que não deve ser desprezado, conforme salienta João
da Cruz: “Para enamorar-se da alma, Deus não põe os olhos em sua grandeza, mas
na grandeza de sua humildade.”
E esse caminho, convenhamos, passa necessariamente pela
vivência de cada um dos ensinamentos de Jesus, que nos convida desde sempre: “Aprendei
de mim que sou manso e humilde de coração.”
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Abra sua alma!