Francisco Muniz
O capítulo 8 de Atos dos Apóstolos apresenta-nos, em seu
versículo 24, parte do episódio em que o apóstolo Pedro contesta e até amaldiçoa
Simão, o mago, e nos convida a tecer comentários acerca da mediunidade paga.
Neste dia 24 de agosto, portanto, vale refletirmos sobre o texto do versículo
citado:
“Rogai vós por mim ao Senhor, para que não me sobrevenha
nada do que acabais de dizer.”
Simão, o mago, fazia sucesso numa cidade da Samaria
apresentando suas artes mágicas, prodígios talvez anímicos. Segundo Lucas,
autor dos “Atos”, ele pretendia ser alguém importante, porque todos, “fascinados
com sua arte”, lhe davam atenção e diziam ter ele o poder de Deus.
Mas Filipe, um dos doze apóstolos de Jesus dispersos pelo mundo,
em pregação após a ascensão, conforme lhes foi recomendado, tinha ido viver
naquela região da Samaria e as multidões iam ouvi-lo e muitos se convertiam ao
presenciarem os fenômenos mediúnicos que ele protagonizava: “De muitos
possessos espíritos impuros saíam, dando grandes gritos, e muitos paralíticos e
coxos foram curados (...)”
Como era muito trabalho a ser feito, Filipe pede ajuda a
seus irmãos de Jerusalém e então Pedro e João são enviados para a colaboração,
orando pelos novos fiéis, “a fim de que recebessem o Espírito Santo” (as
citações são da Bíblia de Jerusalém), porquanto somente haviam sido
batizados em nome de Jesus.
“Quando Simão viu que o Espírito era dado pela imposição das
mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro”, interessado em também magnetizar seus
próprios seguidores de forma semelhante. É então que Pedro brada contra esse
mago, negando-lhe qualquer possibilidade naquele sentido, “porque o teu coração
não é reto diante de Deus”.
Tal episódio recorda-nos aquele em que Jesus expulsa os
vendilhões do Templo, ensinando e exemplificando com algum rigor que não se pode
nem se deve comercializar os dons divinos. Ora, como ajuizou Allan Kardec, a
mediunidade é um desses dons e está inscrita no mandamento segundo o qual devemos
dar de graça o que de graça recebemos. Ainda de acordo com o Codificador, se
fosse possível colocar preço em tais artigos, quanto efetivamente custariam?
No âmbito do Espiritismo, doutrina herdeira das orientações
evangélicas tal como o Cristo as esboçou desde o início de seu messianato, toda
prática decorrente do intercâmbio com os Espíritos deve ser gratuita, assim preconizam
Kardec e os Invisíveis que, também em nome do Mestre nazareno, lhe seguiram os
passos, principalmente, no Brasil, através de médiuns como Chico Xavier, Divaldo
Franco e Yvonne do Amaral Pereira, apenas para citarmos três dos mais profícuos.
Isso tudo quer dizer apenas que os médiuns da atualidade orientados
pela Doutrina Espírita não devem atuar sob condições amoedadas nem se valerem dos
conhecimentos doutrinários para auferir ganhos pessoais. Uma vez, ouvi de um
motorista de táxi que me levou de um centro espírita para outro a incrível, embora
plausível, história de que nossos grupos de estudo começam lotados e chegam ao termo
com pouca gente exatamente porque muitos buscam tais conceitos para melhor
venderem seu “peixe” aos incautos.
Daí ser possível concluir que, se é fácil entrarmos no
Espiritismo, o contrário se dá com muito esforço de nossa parte, porque se
trata de desenvolvermos noções de responsabilidade e de compromisso com a
própria consciência e para com o próprio Jesus.
Além do mais, havemos de convir que a mediunidade não
pertence ao homem, ainda que presente nele organicamente, posto que nenhum de
nós pode utilizá-la de acordo com a própria vontade, sem a anuência dos
Espíritos. O intercâmbio é um trabalho de parceria e, quando a ferramenta não é
utilizada convenientemente, os bons Espíritos saem de cena, deixando campo
aberto à ação maléfica dos inimigos de Jesus. Os resultados, então, serão aqueles
correspondentes à natureza das companhias e dos interesses que esposem.
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