Esta data no Evangelho (23 de agosto)

Francisco Muniz


Hoje, dia 23 de agosto, nosso estudo nos leva ao Evangelho de Marcos, onde, na Bíblia de Jerusalém, o versículo 23 do capítulo oitavo traz um trecho relativo à cura de um cego em Betsaida. Marcos nos fala da ação de Jesus nestes termos:

“Tomando o cego pela mão, levou-o para fora do povoado e, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe: “Percebes alguma coisa?””

A pergunta do Mestre é de uma profundidade insuspeitada e diz respeito a todos nós que nos proclamamos cristãos e ainda estamos cegos para a realidade do Espírito imortal. O que já percebemos da Verdade, além da simples contemplação dos fenômenos?
 
A Verdade, ouso dizer, é tudo aquilo que nos aparece como dúvida e nos leva primeiro à incredulidade e, depois, à convicção, desde que estejamos livres do “espírito de sistema” que Allan Kardec combateu.
Em seu livro O que é o Espiritismo?, o Codificador narra a posição daqueles que observam o resultado da ação dos Espíritos sobre a matéria mas rechaçam a evidência exclamando assim: “Vejo, mas não acredito, porque sei que é impossível!”
 
Em seu relato, Marcos, que era apenas uma criança quando essa cura aconteceu e não testemunhou o episódio – muito provavelmente, ele recebera de Pedro essa narrativa –, informa-nos que Jesus precisou repetir a operação até que o cego recuperasse a visão por completo. Assim, quantas vezes passaremos pelas mesmas provas até percebermos o significado de cada uma delas, até aprendermos a lição?

Mas também vale notar que Jesus toma o cego pela mão, conduzindo-o, sendo-lhe o guia. Hoje aprendemos que o Cristo é o guia e modelo de toda a Humanidade, porquanto naqueles tempos recuados ele já havia declarado que ninguém vai ao Pai, ou seja, não se pode unir a Deus senão por ele, compreendendo e vivendo seus ensinamentos.
 
Leva-o para fora do povoado, isto é, para longe do bulício da cidade, onde a azáfama cotidiana, afeita aos atrativos do mundo, sendo maior a cegueira espiritual, pouco permite ao crente dedicar-se ao encontro com Jesus. Ao final, Jesus pede ao ex-cego que vá para casa mas não volte ao povoado.

Retirando-nos de nós mesmos, de nossa expressão inferior, e movidos por nossas necessidades mais secretas, aquelas que nos impelem de fato para a cura de nós mesmos, atraímos a ação benemérita do Senhor e então os fenômenos se realizam, por acréscimo de misericórdia. Mas é preciso perseverar na trilha do bem para que a cura real aconteça e não apenas a do corpo; é preciso que a alma esteja livre de todo empeço para que a personalidade possa perceber a grandiosa dimensão do Espírito e enfim reconheça o Cristo como seu Mestre e Senhor.

Os cegos de hoje, quando se diz que o pior deles é o que não quer ver, estão em toda parte, em todos os grupamentos da esfera humana, até mesmo no âmbito macro do movimento espírita, como no microcosmo da Casa Espírita, onde muitos se fazem presentes esperando o benefício do passe ou da água fluidificada, realizando tratamentos seguidos mas sem sentirem o perdigoto do Cristo caindo-lhes nos olhos a fim de que despertem e percebam ser imprescindível divorciarem-se da condição anterior, para que a transformação de fato aconteça.

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