Francisco Muniz
Hoje voltamos ao Evangelho de João, para comentar o texto do versículo 20 do capítulo 8, referentes a este dia 20 de agosto, a fim de, prosseguindo nossos estudos, compreendermos mais um pouco acerca das lições e exemplos de Jesus, observando que toda a vida do Mestre é uma bela metáfora de nossa jornada espiritual (veja quem tenha olhos de ver!). Eis o trecho em destaque:
“Essas palavras, ele as pronunciou no Tesouro, ensinando no
Templo. E ninguém o prendeu, porque sua hora ainda não havia chegado.”
Enquanto nossa hora não chega, vamos convir, gozamos de
relativa liberdade na Terra. Mas que será essa liberdade, considerando nossa
vinculação à matéria – às coisas e às pessoas? A Jesus, ninguém o prendia
porque a ninguém nem a nada ele estava preso; sabia até mesmo quando sua hora
chegaria; enquanto isso, seguia ensinando, distribuindo os tesouros de seu
coração no templo da adoração ao Pai.
E quanto a nós? O que ensinamos, que tipo de valores espalhamos
por aí? O que e quem ainda nos prende? Como estaremos quando soar nossa hora da
despedida deste mundo?
O conhecimento do Espiritismo, que nos informa sobre a vida
futura e a necessidade de nos prepararmos para a reentrada no mundo dos
Espíritos, nossa pátria verdadeira, leva-nos a fazer constantemente essas
reflexões.
Conta-se que, num mosteiro, os monges todos cuidavam de seus
afazeres quando um deles, dirigindo-se ao portão, viu um seu irmão cuidando do
jardim e foi até ele com uma pergunta: “O que você faria se a morte chegasse aqui,
de repente, procurando-o?” O monge jardineiro respondeu assim: “Provavelmente
eu continuaria cultivando minhas flores!”
É uma historinha simples, mas rica de significados. A vida
nos coloca em determinadas funções que devemos desempenhar de tal forma que nem
a morte nos perturbe nesses deveres que trazemos para cumprir na Terra. Porque
o amanhã será compatível com o modo como vivemos hoje – daí a necessidade de
nos preparar para a hora derradeira!
Partir é, pois, tão necessário quanto chegar à Terra, o que
nós, espíritos em aprendizado, em crescimento, em evolução, realizamos vezes
seguidas, mercê da divina misericórdia, que através da reencarnação nos permite
fazer e refazer tantas experiências quantas o exija nosso processo de
aperfeiçoamento.
Sabemos que a morte é diferente de morrer e que a primeira já
não assusta tanto quanto o segundo. Pois mesmo entre os espíritas, para quem o
entendimento acerca da morte desmistifica-a e a conceitua como um portal para a
Vida, para a Realidade do Espírito imortal, ainda assim persiste o medo de
morrer. A que isso se deve, senão ao apego decorrente das ilusões próprias do
materialismo e da pouca compreensão e vivência das lições evangélicas?
O fato é que a hora chega para todos e, ao contrário de todo
mundo, nós, que escolhemos aprender com o Cristo, seguindo suas pegadas a fim
de chegarmos, um dia, onde ele se encontra, precisamos vencer os obstáculos do
apego, colocando coisas e pessoas nos devidos lugares, para não encontrarmos a
dificuldade que o companheiro Frederico Figner registrou em seu livro Voltei,
ditado à psicografia de Chico Xavier.
Nessa obra, Figner, sob o pseudônimo de Irmão Jacob, conta o
que experimentou após a desencarnação: numa comitiva liderada pelo Benfeitor
Bezerra de Menezes, ele seguia da Terra em demanda de esfera mais iluminada,
quando recebeu o aviso de não olhar para baixo. O aviso teve nele o efeito contrário:
Figner olhou para baixo e assim fez contato com a inferioridade que acabara de
abandonar e lá foi ele caindo, caindo... até ser socorrido pelo influxo de
Bezerra.
Quando chegar nossa hora, que ela nos encontre dispostos a
seguir em frente, certos de que estaremos voltando para a casa paterna, para o
ambiente que nos é próprio, agradecidos pelo estágio na Terra mas felizes por
termos vencido mais uma etapa do aprendizado nesta escola abençoada!
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