Francisco Muniz
Nosso programa de estudo neotestamentário elege hoje, dia 19
de agosto, o versículo 19 do capítulo 8 do Evangelho de Mateus, que nos traz o
seguinte texto:
“Então chegou-se a ele um escriba e disse: ‘Mestre, eu te
seguirei para onde quer que vás.’”
Apenas isso. “Eu te seguirei.”
Essa foi a disposição de um escriba perante Jesus, ao que o
Mestre declarou, peremptório: “As raposas têm toca e as aves do céu, ninhos;
mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.”
Não foram poucos os que se ofereceram para seguir em
companhia do Messias para qualquer lugar do mundo de dois mil anos atrás,
quando tudo se resumia aos limites do Império Romano, do qual a Palestina não
era mais do que uma província periférica – embora fosse o território
circunscrito da missão do Nazareno. Entretanto, que tipo de interesse envolve
cada disposição de seguir o Mestre – desde aqueles tempos recuados até os dias
de hoje?
Ao escriba, Jesus disse nada ter de material; ao moço rico,
pediu que vendesse tudo que tinha; um certo discípulo condicionou sua adesão ao
propósito do Cristo à ação primeira de enterrar o pai morto, ouvindo do Senhor
que deixasse os mortos enterrarem seus mortos – isto é, que aqueles aferrados
ao materialismo cuidassem das coisas materiais.
O fato é que nos aproximamos do Cristo – e de suas ideias! –
movidos bem mais por razões particularistas do que pelo desejo sincero de sair
de nós mesmos para abraçar a causa delineada desde antes do batismo de Jesus no
rio Jordão, ante os seguidores de João, o Batista. Naquele dia, todos que ali
estavam puderam ouvir, pelo fenômeno da voz direta, esta proclamação creditada
ao próprio Deus: “Eis meu Filho bem amado, em quem me comprazo.”
E André, irmão de Pedro, foi o primeiro a seguir os passos
daquele Homem; depois se achegaram os irmãos “boanerges” (*), João e Tiago. O
que os movia, ao ponto de abdicarem das lições do Batista? Ah, aqueles corações
não queriam apenas novidades, mas explodiam de contentamento por terem
encontrado a resposta para um antigo quão secreto anseio: o encontro da Verdade
confirmadora das velhas profecias.
Hoje, porém, o ideal está conspurcado por interesses menos
nobres, pois há quem busque o Cristo, através da vinculação a esta ou aquela corrente
religiosa de denominação cristã, para debelar enfermidades físicas; ou resolver
problemas conjugais; ou simplesmente, o que é mais perigoso, para auferir
ganhos financeiros e conquistar o poder temporal.
No entanto, Jesus segue pedindo reflexão de nossa parte,
porquanto o critério para acompanharmos seus passos é unicamente a fidelidade,
ou seja, a sinceridade de nossa participação em sua Obra. Para tanto é preciso
estarmos certos, convictos mesmo de que poderemos dar testemunho de nossa vinculação
aos divinos propósitos através do sacrifício de nossos interesses pessoais, a
fim de merecermos o acréscimo de misericórdia com que o Céu nos cumulará.
É o tempo, pois, de examinarmos a consciência e fazermos,
aos poucos e paulatinamente, o necessário saneamento de nossos desejos ocultos,
limando asperezas, conformando interesses ao programa de transformação íntima,
desenvolvendo os valores enobrecedores que nos dormitam na alma, tornando-nos,
enfim, verdadeiros seguidores do Mestre. Tal é a proposta do Espiritismo, em
revivendo a pureza dos ensinamentos do Cristianismo primitivo.
***
(*) “Boanerges” – filhos do trovão, em aramaico, apelido dado por Jesus aos dois irmãos, devido à impetuosidade própria dos adolescentes apaixonados.
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