Esta data no Evangelho (17 de agosto)

Francisco Muniz



“Diversas curas” – com esse subtítulo o evangelista Mateus dá prosseguimento à terceira parte de seu livro falando da “pregação do Reino dos Céus”, conforme a divisão didática da Bíblia de Jerusalém. Estamos no capítulo 8, que se inicia com a parte narrativa concernente aos “dez milagres” de Jesus e cujo versículo 17, correspondente a este dia do mês de agosto, registra o que segue:

“(...) a fim de se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: ‘Levou nossas enfermidades e carregou nossas doenças.’”

Para melhor entendimento dessa passagem, que, como se percebe, está incompleta, é mister recuperarmos o contexto em que Mateus faz seu registro. Jesus está em Cafarnaum, cidade da Galileia – o “jardim fechado”, na interpretação de C. T. Pastorino (*) – onde estabeleceu seu “quartel general”, na casa de Simão Pedro. Ali, quando ainda estava a caminho da cidade, o Mestre havia curado um leproso; depois, já em Cafarnaum, curara o servo de um centurião e a sogra de Pedro. Tudo isso levara um dia inteiro. Assim, “ao entardecer”, diz o evangelista no versículo 16, “trouxeram-lhe muitos endemoninhados e ele, com uma palavra, expulsou os espíritos e curou todos os que estavam enfermos (...)”
 
É aqui que iniciamos nosso comentário e recordamos de como se dá o funcionamento de um centro espírita, instituição que procura reviver os ensinos e exemplos de Jesus o mais puramente possível. É nele que os necessitados da alma são atendidos e, beneficiados pela terapêutica fluídica através dos passes, da água magnetizada e, principalmente, pelos esclarecimentos acerca da própria conduta, obtenham os meios para cuidar melhor de seus problemas físicos, recuperando, no tempo propício, até mesmo a cura de enfermidades.
 
A esse respeito, é preciso frisar que o Espiritismo não cura corpos, mas proporciona o entendimento para que a criatura enferma encontre, ela mesma, o caminho do equilíbrio orgânico através das mudanças de comportamento e de seu padrão de pensamento para que a cura possa se estabelecer, o que pode levar algum tempo. Trata-se, portanto, de uma ciência cujo objeto de estudo é o Espírito imortal. Esse estudo tem como ferramenta investigativa a mediunidade, o sexto sentido humano que permite devassar o mundo espiritual e estabelecer comunicação com o Invisível.

Assim é que, na Casa Espírita, após as lides assistenciais – atendimento, acolhimento, tratamento, reuniões de estudo e esclarecimento ao público – há o atendimento direto aos Espíritos, especialmente aos sofredores, os quais são beneficiados também indiretamente nas várias atividades lá processadas. É desse modo que percebemos a dupla dimensão do centro espírita, ocupando simultaneamente encarnados e desencarnados. É uma azáfama cuja complexidade é muito maior do “outro lado”, ainda que do lado de cá haja muitas dificuldades a superar.

Ao recordar a profecia de Isaías, Mateus nos faz voltar a atenção para nossa condição de continuadores da obra do Messias, que da distante Palestina de dois mil e vinte anos atrás segue nos convocando à tarefa redentora que é de todos os cristãos responsáveis: “Limpai os leprosos, curai os enfermos e expulsai demônios”. É preciso, pois, usar bem a palavra e, com a força da fé raciocinada, levar o esclarecimento a quantos necessitem de estímulo para a reforma de si mesmos, assim embelezando a própria vida aos olhos de Deus.

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(*) Carlos Torres Pastorino, autor de “Sabedoria do Evangelho”, ed. Sabedoria, RJ.

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