Esta data no Evangelho (14 de agosto)

Francisco Muniz



A Bíblia de Jerusalém nos leva hoje, 14 de agosto, à primeira Epístola de Paulo à igreja de Corinto, em cujo capítulo 14 o Apóstolo dos Gentios trata da “hierarquia dos carismas em vista do bem comum”. Era, portanto, uma recomendação aos coríntios acerca do bom uso das faculdades mediúnicas – e disso Paulo entendia muito bem. Isto posto, vejamos o que nos informa o versículo 8, tema de nossos comentários:

“E, se a trombeta emitir um som confuso, quem se preparará para a guerra?”

Paulo, aí, nesse capítulo, está, 18 séculos antes de Allan Kardec, chamando a atenção para a importância da disciplina e unidade de conjunto para que haja harmonia e uniformidade nas manifestações mediúnicas. Como são variadas as faculdades mediúnicas, de conformidade com as disposições de cada médium, numa reunião formada para a recepção dos Espíritos é necessário que todos os medianeiros atuem como uma orquestra. É imprescindível, para isso, que os instrumentos estejam afinados e executem a melodia de acordo com a partitura, sob pena de comprometer todo o concerto. Em sua obra Diversidade dos Carismas, o escritor Hermínio Miranda explora mais e melhor essa questão.

Mas a imagem que o apóstolo da gentilidade utiliza no versículo citado faz correspondência com o que se observa na atualidade e assim vale contextualizar a frase.

Como vimos não faz muito, o homem está no meio de uma significativa batalha – Paulo prefere dizer guerra: a que as forças das trevas, identificadas com o mal, declararam ao poder da Luz, expressão do sumo Bem. Estar no meio é condição do intermediário, que Kardec conceituou, com propriedade, como médium (meio, em latim) e cujas responsabilidades o codificador do Espiritismo descreveu em O Livro dos Médiuns.
 
Ora, como sabemos e já foi dito neste estudo, a Terra é o palco dessa batalha, muito mais intensa agora, quando o planeta, por determinação de seu Governador, o Cristo, está em franca transição para a condição de mundo de regeneração. E, é fácil notar, isso não se fará sem as dores próprias da refrega, com pesadas perdas e acontecimentos que causarão muitas perturbações. Mas o Mestre já nos advertira a esse respeito: “Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mateus 24:23-24).

É dever dos médiuns – dos homens em geral, porquanto todos somos médiuns em maior ou menor grau, conforme sentenciou o Codificador –, portanto, manterem-se precavidos, prudentes e, tanto quanto possível, dispostos à unidade de propósitos no tocante à colaboração com os Espíritos, para não sofrermos a insidiosa influenciação dos inimigos do Cristo, nosso guia e modelo. Essa recomendação é, desde há dois mil anos, para toda a Humanidade, o rebanho de Jesus, mas se dirige, com maior precisão, aos espíritas, a nós que nos consideramos os trabalhadores da última hora.

Assim, estudar – instruindo-nos na nova Ciência e esclarecendo-nos quanto ao modo de proceder em face dos ensinamentos do Evangelho – é tão importante quanto praticar as lições que nos chegam por intermédio dos Espíritos do Senhor. Na condição de medianeiros, temos o dever de ser instrumentos mais afinados e as ferramentas mais azeitadas, isto é, compatíveis com a natureza do trabalho a fazer. Vale, portanto, recordarmos a ponderação constante das páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo relativamente à “missão do homem inteligente na Terra” (cap. VII, item 13): “A natureza do instrumento não indica o uso que dele se deve fazer? A enxada que o jardineiro coloca entre as mãos de seu operário não lhe mostra que ele deve cavar?” Pois é: o jardineiro é o senhor e ele nos convoca, os homens de boa vontade, para a tarefa de regeneração do mundo começando pela regeneração de nós mesmos.

Comentários