Esta data no Evangelho (10 de agosto)

Francisco Muniz


"O bom pastor" - eis o título do décimo capítulo do Evangelho de João, cujo versículo 8 comentaremos hoje, dia 10 de agosto, em prosseguimento de nosso programa de estudo. Nesse capítulo, Jesus volta a falar sobre sua missão de Enviado celestial, revelando-se como o Pastor daquelas ovelhas transviadas, e suas palavras aborrecem sobremaneira os fariseus que o ouviam: "Acaso também nós somos cegos?" Mas vamos ao texto do versículo citado:

"Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram."

Ora, os fariseus estavam "por aqui" com Jesus após a cura de um cego de nascença e é nesse clima que o Mestre se afirma como o Pastor que dá a vida por suas ovelhas, antes à mercê de ladrões e assaltantes. Estes, segundo a interpretação da Bíblia de Jerusalém (BJ), seriam os fariseus, membros do partido religioso que dominava as discussões e a condução do Templo de Jerusalém. Evidentemente, os doutores da Lei e seus simpatizantes não gostavam nada das verdades ditas pelo Messias e que nos registros de João a BJ coloca como um belo poema.

Mas cremos que a pecha assacada pelo Cristo cabe também nos reis e sacerdotes que antes da chegada do Messias exploravam o "povo escolhido" aproveitando-se de sua crença no Deus único. Também o invasor romano deve ser "indiciado" nesse processo, posto que a sanha gananciosa de Roma fechava os olhos para os arroubos farisaicos.

No entanto, importa, em nossa modesta avaliação, transpormos os séculos e, chegando a nossos dias, considerarmos como nos encontrávamos antes da chegada do Cristo em nossa vivência religiosa, especialmente no momento anterior à nossa decisão de aprendermos a Verdade pela orientação da Doutrina Espírita, que revive para nós toda a pureza da doutrina de Jesus.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Espírito de Verdade, a quem é dedicado todo o sexto capítulo ("O Cristo consolador"), afirma que "no Cristianismo estão todas as verdades; os erros que nele se encontram são de origem humana".

É dever do aprendiz, portanto, instruir-se quanto à verdade para conseguir discernir os erros com os quais se acostumou, secularmente, desde que o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano. A partir de então, Jesus deixou de estar presente ali, a não ser nominalmente, uma vez que a essência de seus ensinamentos foi pervertida pela clara adesão aos preceitos do culto exterior.

Hoje, convivendo com a interpretação que o Espiritismo nos faculta, podemos compreender com toda a clareza possível, que a doutrina codificada por Allan Kardec é de fato a chave que descerra a porta do Evangelho que nos permite enxergar o Cristo verdadeiro, reconhecendo que todos os que vieram antes eram mesmo ladrões e assaltantes de nossa fé, de nossas mais sinceras e legítimas aspirações de nos aproximar de Deus. Como as ovelhas do rebanho de Jesus, já sabemos, agora, a quem ouvir.

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