Notícias do Purgatório

Francisco Muniz



A teologia católica, certamente por inspiração espiritual, criou a figura do Purgatório para exprimir a condição das almas que, sem méritos para habitar o "Céu", não tinham "pecados" suficientes para se condenarem às penas do "fogo eterno". Como a Doutrina Espírita nos esclarece, o céu e o inferno da cultura judaico-cristã não constituem lugares circunscritos no espaço celestial ou nos subterrâneos do planeta, sendo apenas o condicionamento mental a que as criaturas se submetem por apresentarem a consciência mais ou menos tranquila em razão das atitudes e dos pensamentos esposados tanto quando encarnadas quanto na Erraticidade. Desse modo, o que há, de fato, no panorama espiritual propriamente dito, é a reunião de mentes que se associam em conformidade com as próprias tendências e anseios - e se tais afinidades são de baixo teor vibratório, eis o Purgatório!
É isso que o Espírito Manoel Philomeno de Miranda nos explica em seu livro "Reencontro com a Vida" (psicografia de Divaldo Franco), no capítulo 10, devidamente intitulado "Purgatório". Aí, o autor espiritual revela que esses conglomerados de espíritos infortunados ocupam os mais diversos ambientes astrais da Terra, fazendo eco às palavras do Espírito André Luiz, que através de Chico Xavier informou que o Umbral (outro nome desse purgatório) começa na crosta do planeta. Diz-nos também Philomeno que esses ajuntamentos dão lugar "a verdadeiras cidades de horror" e que "esse mundo de vibrações danosas (...) Allan Kardec definiu-o como Erraticidade inferior".
Numa possível referência ao poeta italiano renascentista Dante Alighieri, autor da monumental "Divina Comédia", Philomeno destaca que "não foram poucos os místicos que visitaram essas regiões espirituais de sombra e dor e as confundiram com o Inferno". Em seu livro famoso, obra prima da literatura mundial, Dante registrou suas impressões a partir das visitas feitas - possivelmente em desdobramento mediúnico, em companhia de seu mentor espiritual, o poeta Virgílio - às instâncias, ou esferas espirituais que ele batizou de Céu, Inferno e Purgatório.
O autor de "Reencontro com a Vida" salienta que essas regiões de verdadeira purgação, onde as almas "culpadas" se homiziam por afinidade vibratória, são no entanto transitórias têm a finalidade de possibilitar o "despertamento para a realidade da vida e a compreensão de que ninguém pode transgredir as Leis Soberanas sem sofrer as consequências dos seus atos ignóbeis". É que a consciência, segue dizendo Philomeno, "registra todos os pensamentos palavras e atos, oferecendo respostas equivalentes, que consubstanciam o ser no seu processo de crescimento espiritual".
Segundo ele observa, em decorrência de as criaturas se vincularem umas às outras a partir dos interesses a que se aferram é que Jesus afirmou estar dentro de nós o Reino de Deus, sendo que o inverso também é verdadeiro. Convém meditarmos sobre tais pontos, ampliando o entendimento desses conceitos com a leitura de obras como "O Céu e o Inferno", na qual o Codificador (Kardec) abre espaço para os Espíritos sofredores relatarem os dramas que os assaltaram após a desencarnação, e "Obreiros da Vida Eterna" (André Luiz/Chico Xavier), onde, logo nos primeiros capítulos, temos notícia da condição daqueles de nós que cederam à imprevidência e, deixando-se conduzir pelas vias opostas ao Bem, amargam atrozes sofrimentos na Realidade verdadeira.

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