Esta data no Evangelho (24 de julho)

Francisco Muniz


Neste 24 de julho, um sábado chuvoso, nossa atenção recai mais uma vez sobre o Evangelho de Lucas, onde encontramos, no versículo 7 do capítulo 24, esta passagem, sob a epígrafe "Após a ressurreição":

"É preciso que o Filho do Homem seja entregue às mãos dos pecadores, seja crucificado, e ressuscite ao terceiro dia."

Poderiam ser palavras de Jesus, mas foram pronunciadas pelos dois anjos às mulheres que foram ungir com óleo o corpo do Crucificado. Mas o sepulcro estava vazio. As palavras, contudo, recordavam o que o Mestre lhes havia dito "quando ainda estava na Galileia", para dar cumprimento às antigas profecias.

Estava escrito ("maktub!", como dizem os árabes muçulmanos) e era necessário cumprir o planejamento do Alto, a fim de que não restassem dúvidas quanto ao papel do Messias no horizonte evolutivo da Humanidade.

Há duas maneiras de se interpretar essa passagem evangélica e uma delas é quanto à morte física relacionada ao desprendimento dos liames que ligam o Espírito desencarnante a seus despojos.

Segundo o que Emmanuel, mentor de Chico Xavier, declarou certa vez, o Espírito, em geral, leva três dias para se desembaraçar desses cordões energéticos, sendo necessário esperar o transcurso de 72 horas após o óbito em caso de cremação do corpo, por exemplo. Após esse período é que haveria a ressurreição espiritual de fato.

Já a explicação simbólica leva em questão as três imagens propostas: o ser entregue às mãos dos pecadores, o sacrifício e a ressurreição.

Ora, o Mestre nos havia ensinado que não precisamos ter medo daqueles que matam o corpo, mas deveríamos, antes, temer quem pode matar a alma. Ou seja, o sacrifício de algo importante, qual a personalidade representada pelo corpo material, é imprescindível para se obter algo mais importante ainda, como a (re)adaptação imediata, o quanto possível, à realidade do Espírito imortal.

Para tanto, pode acontecer que as "mãos dos pecadores", isto é, a ação do mal, sejam as responsáveis pelo sacrifício que o Espírito em ascensão enfrentará na encarnação. Só assim haverá a real libertação.

O "terceiro dia", sob essa ótica, também pode significar o último passo do processo evolutivo, compreendendo-se o tempo de plantar, o de esperar a maturação dos frutos e o momento da colheita, de modo que o Espírito, sendo chamado antes à experiência e depois à reflexão ou avaliação de seus atos, somente na terceira oportunidade reencarnatória teria como efetivamente vencer a si mesmo e elevar-se à etapa seguinte do aprendizado que o aperfeiçoará cada vez mais.

O Filho do Homem, ou seja, o Cristo planetário, viveu esses três momentos, em seu curto período entre nós - apenas 33 anos, três dos quais, os últimos, exercendo o messianato -, exemplificando como deve ser nossa própria jornada.

Assim, de acordo com o estágio em que cada um se encontre, isto é, conforme o nível de despertamento, haverá entre nós quem ainda tema a sanha dos "pecadores" e não aceite o "sacrifício", demorando, portanto, para "ressurgir dos mortos".

Já aqueles afeiçoados às propostas de Jesus sabem que a morte não existe para a alma, que se liberta tão logo o corpo deixe de lhe propiciar abrigo, estando prontos, afinal, para a reentrada gloriosa no plano que lhes é próprio: o mundo dos espíritos, normal, primitivo e permanente.

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