O caso de mutismo na Revista Espírita

Sonia Hoffmann






Diariamente, alguns acontecimentos nem sempre são elucidados pela ciência, mas explicáveis pelas informações doutrinárias contidas no espiritismo. Por isso, a importância de o estudar atenta e sistematicamente. Exemplo trazido por Allan Kardec em publicação na Revista Espírita de fevereiro de 1865 narra um episódio de mutismo infantil e esclarece determinado fato de origem desconhecida até então.

Uma criança francesa de três anos tinha durante o dia apenas linguagem de sons debilmente articulados e incompreensíveis, além de somente pronunciar 'papá' e 'mamã'. Após tentativas sem sucesso para a criança melhorar sua comunicação e falar palavras mais usuais, a mãe foi despertada em uma noite pela voz do filho adormecido, articulando distintamente, em voz alta e repetidamente, como em exercício vocal, as letras A, B, C, D, jamais pronunciadas quando despertado.

Como hipótese, Kardec destaca a possibilidade do espírito, não tendo aprendido em vigília e naquela vida o que dizia durante o sono, ter forçosamente aprendido em outra existência e em reencarnação na qual falava francês, porque sua pronúncia era nesse idioma.

A Revista narra que, em mensagem, um amigo espiritual vem elucidar o caso, explicando que a inteligência da criança poderia ficar velada por algum tempo, pelo sofrimento material da reencarnação, à qual esse espírito teve muita dificuldade em submeter-se, e que momentaneamente lhe afetara as faculdades. Seu guia espiritual, durante o sono do corpo físico, o auxiliava para que pudesse sair daquele estado, pelos conselhos, encorajamento e com exercícios. Disse que quando a fase de embotamento passasse, ele retornaria à normalidade. O torpor teria seu fim determinado por um choque violento ou extrema emoção vivenciada pelo menino.

A publicação destaca dois ensinamentos bastante relevantes: a possibilidade de um espírito desencarnado, no caso o seu guia espiritual, atuar dando a primeira educação para um espírito encarnado, e atribui a um efeito mediúnico o fato de o garoto articular as letras durante o sono, uma vez que resultava do exercício indicado por seu protetor.

Em carta posterior, houve informação de que o menino realmente sofrera um choque, quando sua avó caiu e quase o esmagou. Desde aquele trauma, a criança surpreendia a todos, e nas mais diversas situações, com a pronúncia compreensível de frases inteiras.

Em sessão da Sociedade Espírita Parisiense, na época, outros esclarecimentos confirmaram o princípio desse gênero de mediunidade infantil.

Na fase da infância no berço, o papel e a disposição do espírito sobre a matéria são pouco sensíveis. Nesse momento, os guias espirituais aproveitam para o encorajamento em suas boas resoluções. No sono, o espírito compreende e se lembra dos compromissos contraídos para o seu adiantamento moral, recebendo assistência e ajuda com salutares instruções. Em vigília, as instruções podem ser inspiradas.

Com nesta narrativa, fica evidenciado o quanto, ao menos em germe, todos possuem o dom da mediunidade e como a infância propriamente dita é uma longa série de efeitos mediúnicos.

Nesta fase, constatamos também a realidade da inclusão no intercâmbio comunicativo entre espíritos encarnados e desencarnados. O que nos leva a considerar igualmente a importância do estudo mais profundo sobre as abordagens inclusivas e a agilização da prática includente nas diversas estruturas do Movimento Espírita, visto que as diferenças precisam ser entendidas sempre como um aprendizado.


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