Dívida e resgate que livra séculos de sofrimentos

Adelino da Silveira


Uma das cunhadas de Chico Xavier deu à luz um filho que apresentava o que nós consideramos anormalidades: braços e pernas atrofiados, olhos cobertos por uma espessa névoa que o mantinham na mais completa escuridão e um rosto tão deformado, que inspirava medo a quem o via. Tal era a aparência do menino que sua mãe ao vê-lo teve um choque e acabou internada em um hospital de doentes mentais. Chico assumiu o encargo de criar o sobrinho.

Ocorre que cuidar da criança não era fácil. Ele tinha de medicá-la, banhá-la e aplicar-lhe um clister diariamente. O sobrinho não conseguia deglutir e, por isso, Chico tinha que formar uma pequena bola com a comida, colocar em sua garganta e empurrar com o dedo.

A árdua tarefa prosseguiu por doze anos aproximadamente.

Quando o sobrinho piorava, Chico orava muito para que ele não desencarnasse, pois o amava como um filho. Certa vez Emmanuel explicou: “Ele só vai desencarnar quando o pulmão começar a desenvolver e não encontrar espaço. Aí, então, qualquer resfriado pode-se transformar numa pneumonia e ele partirá”.

Próximo dos doze anos, o garoto foi acometido de uma forte gripe e começou a definhar. Momentos antes do desenlace, seus olhos se abriram e ele pôde enxergar. O menino então olhou para o Chico e procurou traduzir naquele olhar toda a sua gratidão pelo bem que ele lhe fizera. Emmanuel, que observava a cena, declarou: “Graças a Deus! É a primeira vez, depois de cento e cinquenta anos, que seus olhos se voltam para a luz. As suas dívidas do passado foram liquidadas. Louvado seja Jesus”.

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Fonte: livro "Chico, de Francisco".

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