Ele vela, nós dormimos...

Marta/Marcel Mariano


Ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio... tudo encontra-se em constante mudança...

Conquanto não visíveis, milhões de corações estorcegam nas dores despercebidas.
Assemelhando-se a vasto hospital de alienados e enfermos diversos, o planeta atravessa dramático instante de sua evolução individual e coletiva e as crises eclodem em inimagináveis proporções.
De todos os quadrantes vazam lágrimas salgadas dos aflitos e da inquietação por conta das incertezas humanas.
A pandemia ceifa, de maneira ininterrupta, incontáveis existências físicas a cada dia. Ao lado desta tragédia mundial, a violência urbana, o câncer, os acidentes de automóveis e outras ocorrências danosas vão dilatando a dor de maneira cruel nas almas sensíveis.
Esforços não cessam de serem movimentados no sentido de estancar a grave hemorragia da esperança, que parece ave assustada, alçando vôo do planeta e abandonando a criatura humana à própria sorte.
O céu íntimo, cinzento, parece anunciar novas calamidades a cada novo amanhecer, instalando uma incerteza e renovada inquietação nas mentes e nos corações.
Ferramentas da divindade, os flagelos naturais são episódios periódicos a visitarem o ambiente terrestre, alterando o clima e o solo para uma melhor serventia nos tempos vindouros.
Arrebata corpos na sua volúpia caótica, deixando atrás de si dores e saudades, mas renova a paisagem para as gerações que estão por vir.
Igualmente atingidos pelos acontecimentos trágicos, nem sempre os poupados conseguem avaliar com justeza e equilíbrio os benefícios de tais ocorrências consentidas pela divindade, enceguecida pela cultura materialista vigente em nossos dias.
Mesmo os cultivadores de valores religiosos tombam no fanatismo de grei e no fundamentalismo doentio, ignorando a impermanência de tudo que é material.
Grande falta faz uma fé lúcida e raciocinada, que patrocinaria melhor compreensão da atuação de tais mecanismos divinos, operando em benefício da própria criatura humana. Estas aparentes desgraças terrestres são sutis mecanismos da vida em prol da libertação do ser de sua milenar cegueira e dependência, criando estímulos à mudança onde o Espírito estacionou nas conveniências do caminho, atrasando-se no seu evoluir.
Nenhuma ocorrência se dá sem aval da consciência cósmica e ao arrepio das excelsas leis. O acaso é o pseudônimo que Deus usa quando assina os divinos decretos da indispensável renovação planetária.
Olha em torno e verás equilíbrio por toda parte.
Após a tempestade, ressurge a bonança.
Pandemias surgem, agem e são vencidas pela vacina oportuna.
Terremotos agitam as entranhas da terra, convulsionam vilas e cidades e depois aquietam-se no ajuste das placas tectônicas em incessante movimentação.
Jesus já nos havia alertado sobre esses dias tormentosos que ora enfrentamos no planeta em regeneração individual e coletiva, nos conclamando à fé em Deus e a confiança na própria imortalidade.
Ninguém perece em definitivo.
Tudo é mudança de plano, sem mudança substancial do ser.
Ante as tragédias anunciadas ou imprevistas, resguarda-te na oração e permanece em teu posto de serviço. Se és sentinela, não te evadas da guarita que te foi confiada, cedendo campo ao desespero e ao medo.
O planeta, à semelhança de uma imensa barca, atravessa nesse instante uma colossal *tempestade de valores e grandes vagas do mar revolto ameaçam sua estrutura, muito bem resguardada pelo Cristo, timoneiro seguro e pastor atento de bilhões de ovelhas assustadas.
Nele, depositemos nossos receios e frustrações, nos deixando conduzir por Sua misericórdia e orientação segura.
Nada a temer. Seja tudo gratidão.
Avançar, nossa única opção.
Ele vela enquanto dormimos.

Juazeiro, 18.11.2020

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