Notícias da solidão

Francisco Muniz
(Do livro Lições do Evangelho para a vida prática)


Deus nos escuta no silêncio e para isto precisamos estar a sós conosco mesmos... Não disse o Cristo que, quando quisermos orar, deveríamos entrar em nosso quarto, fechar a porta e a sós, em segredo, falarmos a Deus, que sabe tudo o que se passa em segredo? E que é a oração senão essa conversa íntima e secreta com o Criador, cuja presença em nós é mais que evidente, uma vez que em todos os homens o sopro da divindade? Entretanto, a maioria das pessoas teme essa entrega ao Inefável, apesar de a buscarem inconscientemente, por medo da solidão, mesmo que no íntimo saibam que a sintonia com as instâncias superiores da alma reclame essas duas condições essenciais: o silêncio e a solidão.
Diz o filósofo Huberto Rohden que são necessários dois pré-requisitos para que o homem desejoso de realizar sua busca pelo sagrado obtenha sucesso: os citados silêncio e solidão. Silenciando seu mundo - tanto interna quanto externamente - será possível ouvir os sons cósmicos - a própria "voz" de Deus, no íntimo da consciência -, o que só se consegue estando em solidão. Para tanto, não é preciso isolar-se do mundo, afirma Rohden, pois é possível estar solitário em meio à multidão.
A esses dois "S" é possível acrescentar um terceiro que, embora embutido nas duas condições originais, pode ser necessário, posto que prévio e consequente àquelas. Trata-se da sintonia, possibilitadora da intuição, por abrir-lhe os canais para as expressões espirituais.
Eis aí uma versão do esquema dos três "S" proposto pelos japoneses em seu sistema de qualidade total empresarial. Devidamente transportado para a esfera pessoal, guardadas as proporções, reparamos que a qualidade pretendida se resume ao bem estar espiritual consoante as práticas voltadas para o alcance da relativa perfeição a que se refere o Cristo no Evangelho: "Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai celestial". Sendo assim, é imprescindível que, para tal conquista, saibamos silenciar e, na solidão de nós mesmos, entrarmos em sintonia com esse Pai amoroso a fim de nos qualificarmos para o exercício de auto aperfeiçoamento.
Como se sabe, não dá para orar quando se está por demais inquieto, com a alma em turbulência. É preciso silenciar a mente, Como bem disse o Cristo, quando quisermos orar, devemos concentrar-nos em nós mesmos e assim fazermos nosso contato com o Mais Alto. É em nosso quarto íntimo que estamos em solidão e em silêncio, mais propensos, portanto, ao intercâmbio com a Espiritualidade. E assim aumentarmos cada vez mais a sintonia com os bons Espíritos, vivenciando os desejados estados de paz.
Essa entrega é o que de mais gratificante pode a alma experimentar, como um mergulho na fonte original em que se plenifica. Por esta razão o Cristo diz que quem beber dessa água nunca mais terá sede - e provém dele próprio, o Divino Emissário, a água viva que nos dessedenta e revigora, dando-nos força para os embates em nossa jornada de aperfeiçoamento espiritual. E isto vem pelo reconhecimento de que somos espíritos imortais em viagem redentora no tempo e no espaço com o dever de quitar todos os débitos contraídos perante as Soberanas Leis, através de atitudes responsáveis junto aos companheiros de jornada, lembrando a sentença do Espírito Joanna de Ângelis: "Quem é solidário jamais se encontra solitário"...

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UM POUCO DE PAZ
(Irmã Rafaela)


Um pouco de paz, será que já não experimentas? Repara que as vicissitudes da vida atribulam a todos e não é diferente contigo, que tens ainda tuas contas a acertar com a divina Lei, a exemplo de todos os encarcerados na Terra. Mas vê: as alegrias são mais numerosas, porquanto tu estás atento ao convite para o trabalho na vinha do Senhor; já és capaz de doar de teu tempo e de teu amor a benefício de muitos; já cooperas com os Obreiros do Senhor e as bênçãos que recebes em troca são significativas. Tudo isto é paz e luz em teu caminho, é pão que sacia tua fome espiritual, tornando-te capacitado para maiores incumbências que só as grandes almas recebem do beneplácito do Pai. 
Não deves, contudo, declinar de teus deveres, sob pena de veres aumentadas tuas provas. Nós te convidamos reiteradas vezes a não esqueceres a tarefa sagrada de crescer, transformando-te, sendo cada vez mais útil na obra do Cristo, que deseja a Terra, lar dos homens, saneada e conduzida ao progresso dos mundos. Todos são chamados a cooperar, porém, poucos estão suficientemente esclarecidos e por isso a disposição para o trabalho ainda é tíbia. 
Assim, vem tu; nós te infundiremos a força necessária e, com tua coragem e determinação, haveremos de lograr o êxito que o Cristo estabelece - o de aumentar o contingente de aprendizes do Evangelho, pelas atitudes fraternas no campo da solidariedade, do amor ao próximo. Vê são grandes os tormentos que afligem as almas na Terra, unicamente porque elas ainda não aprenderam a ver que suas alegrias não estão exatamente na face escura do planeta, mas nas ignotas dimensões espirituais que já consegues perceber e sabes poderem ser elas alcançadas mesmo no mundo, enquanto se purga as dores da encarnação. 
Feliz, portanto, de quem desperta para a Verdade, ampliando sua consciência para assimilar a realidade da Vida imortal. No mundo, tudo perece, tudo é ilusório, exceto a dor, ela mesma um instrumento para o despertar da criatura ainda rebelde quanto às misericordiosas determinações de Deus, a bem de todos os Seus filhos. Então, se caminhas a trilha do dever com responsabilidade e consciência do que és, é claro que experimentas a paz. Não essa paz ilusória apresentada pelo mundo, que empresta lenços às lágrimas mas não estanca o sangue das feridas provocadas pelas inúmeras torturas a que o ser se oferece enquanto não compreende a grandeza de seu destino. 
Não, a paz que todos buscam não é essa que se faz pela distribuição de migalhas aos famintos enquanto se explora corpos e mentes escravos da ignorância que corrompe e encarcera nas trevas os incautos. Ao contrário, vives a paz da consciência tranquila de quem elegeu servir ao Cristo incondicionalmente, fazendo ao outro o que gostarias que este te fizesse. Vives a paz dos discípulos que junto ao Mestre recebem as lições enobrecedoras, confiando no auxílio do tempo e empregando teus esforços em obras meritórias que sabes não serem tuas, mas do Senhor. Esta, sim é a paz a ser buscada.

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