Música e mensagem - Um índio

Francisco Muniz

Um Índio
(Caetano Veloso)
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Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul
Na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias

Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá

Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor
Em gesto, em cheiro, em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto-sim resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará
Não sei dizer assim de um modo explícito

Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranqüilo e infálivel como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

***

Lendo fria ou apaixonadamente a letra dessa bela composição de Caetano Veloso, ela parecerá, no mínimo, tão surrealista quanto boa parte das demais composições do músico santamarense, a exemplo de "O estrangeiro". Mas sob o ótica espírita ela ganha contornos dificilmente imagináveis, bastando que víssemos nesse "índio" uma bela alegoria do ser espiritual.
Com efeito, o espírito imortal seguidas vezes desce de sua "estrela brilhante" que é o mundo espiritual para realizar provas na Terra, trazendo sua bagagem de qualidades e defeitos, com a obrigação de aumentar as primeiras e se desfazer das outras, transmutando-as. Assim, "pousar no coração do hemisfério sul" é uma necessidade sine qua non para a evolução.
E evoluir significa transcender as condições do primitivismo ainda reinante na periferia do ser espiritual (porquanto no âmago prepondera sua essência divina), exterminando os resquícios da "última nação indígena", para o que é imperioso romper os laços do passado, ou seja, livrar-se dos apegos que ainda nos prendem ao elemento material e impedem ascender a esferas mais elevadas do conhecimento.
Ao tomar contato com sua essência, remetendo-se à fonte de onde procede, o Espírito se desfará das ilusões periféricas e compreenderá ser detentor da mais avançada das tecnologias, e então dará combate ao ego, vestindo as diferentes personalidades (Muhammad Ali, Peri, Bruce Lee...) da jornada evolutiva sem se confundir com elas. Aí estará sempre "impávido, tranquilo, infalível"...
Ora todos somos espíritos, criados por Deus para a vida imortal e essa é a revelação óbvia para a qual nem todos despertaram ainda, razão pela qual as doutrinas que a apontam parecem "exóticas" aos olhos comuns, ao passo que algumas pessoas detentoras desse conhecimento têm-no ocultado das mentes irreflexivas. Mas Jesus, o Mestre do Espírito, já alertava, há mais de dois mil anos, para a necessidade de se abrir os olhos e ouvidos para se conhecer a Verdade.
E a verdade é que o índio virá...



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