Música e elevação espiritual

Francisco Muniz



Antigamente, costumávamos cantar muito na casa espírita, como forma de criar um clima propício para a atuação dos Espíritos coordenadores e executores das tarefas em benefício de encarnados e desencarnados. Eram hinos singelos, de uma simplicidade que lhes emprestava uma beleza ímpar, pela suavidade e amplitude das letras, ainda que as melodias, algumas vezes, fossem emprestadas de canções populares um tanto quanto conhecidas. Esse hábito está atualmente em desuso e só cantamos em momentos especialíssimos, assim mesmo utilizando o recurso dos grupos vocais, enquanto a massa de frequentadores se mantém passivamente na condição de ouvinte.
Tudo tem sua razão de ser e hoje sabemos que nem todo mundo é um Pavarotti e, como na canção de João Gilberto, facilmente desafinamos, provocando uma desarmonia sonora que, em vez de ajudar no trabalho espiritual, causa uma perturbação terrível no panorama astral, comprometendo tanto o tratamento quanto a integridade dos equipamentos utilizados pelos Espíritos na realização de delicados processos cirúrgicos.
Ainda assim, é preciso reconhecer que a música é um precioso recurso terapêutico do ponto de vista espiritual e psicológico, recomendável para a harmonização interior que proporciona a sintonia com o Alto. Bem se vê que não falamos de qualquer tipo de som, mas de música propriamente, aquela que eleva o pensamento e enleva a alma, uma vez que o que mais ouvimos atualmente, especialmente na Bahia, é só barulho, um arremedo de música que, ao invés de propiciar a sintonia com os Espíritos Superiores, explora os instintos primitivos e mantém a criatura descuidada nos círculos vibracionais inferiores.
Fazemos tais reflexões em lembrança do último capítulo do livro "Boa Nova", em que Humberto de Campos descreve os últimos dias de Maria, a mãe de Jesus, na Terra e relata sua desencarnação. Uma caravana de Espíritos abnegados recepciona a Santíssima em sua reentrada no plano espiritual e ela deseja rever os panoramas da Palestina onde sofreu e se alegrou com seu filho bem-amado. Depois, Maria externa a intenção de ir até Roma, onde sabe que os seguidores do Cristo são martirizados no circo.
A comitiva então se desloca à pátria dos césares e Maria penetra uma das celas onde os fiéis esperam, aglomerados e tristes, o momento de adentrar a arena. A mãe do Senhor aproxima-se de uma jovem, toca em sua fronte e diz, na acústica do pensamento da moça: "Canta, minha filha!" A menina, subitamente inspirada, inicia timidamente um hino. Em seguida, os demais se contagiam e engrossam o coro. Quando a porta da prisão se abre, chegado o momento do sacrifício, todos marcham cantando louvores a Deus, preparados para entregar o corpo às feras...
Léon Denis, em seu livro “O grande enigma”, vem falar da música das esferas, informando que todo movimento no universo, como o dos astros em sua caminhada cósmica, orbitando uns aos outros, é vibração musical. Talvez por isso o filósofo Huberto Rohden dissesse que a Musica, tanto quanto a Matemática e a Mística, é uma das linguagens de Deus.
Como se depreende, a música vem a ser um poderoso contributo para a harmonização tanto dos ambientes quanto das criaturas em demanda do equilíbrio psicofísico e espiritual, predispondo à oração e à meditação. O Espírito André Luiz, no livro “Nosso Lar” dá-nos um precioso exemplo nesse sentido. Retornando ao hospital, depois de sua primeira viagem de aeróbus, o “repórter do Além” ouve, com seu enfermeiro, em plena via pública, belas melodias atravessando o ar, ouvindo de Lísias a seguinte explicação:
“- Essas músicas procedem das oficinas onde trabalham os habitantes de “Nosso lar”. Após consecutivas observações, reconheceu a Governadoria que a música intensifica o rendimento do serviço, em todos os setores de esforço construtivo. Desde então, ninguém trabalha em “Nosso Lar” sem esse estímulo de alegria.”

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