Meditar

Francisco Muniz



A palavra meditar - e seu ato -, de poderosa e insuspeitada força, bem podia ser lida como "me editar", para termos como melhor interpretar seu poder transformador, sendo, assim, um inconteste agente facilitador de nossas ações com vistas à tão pretendida reforma íntima. "Me editar" seria vermo-nos como uma publicação - um liro, uma revista, um jornal... - que lançássemos a público, representando a vida de cada um de nós no tocante ao relacionamento com os demais, os semelhantes. Essa publicação, pois, para ser bem apresentada ao conhecimento de todos necessita passar por um processo de burilamento, uma profunda e atenta revisão do que foi escrito, permitindo-nos identificar os pontos incongruentes e por isso mesmo incompatíveis com o prazer da leitura e também com a elegância que se exige no estilo.

Para tanto, teríamos de escolher bem cada palavra e frase, suprimindo ou trocando algumas delas, por vezes tendo de modificar períodos inteiros como forma de tornar a leitura dos conteúdos expostos o mais agradável possível. Não é sem razão, portanto, que alguém já disse: "Vive de tal forma que sejas como cartas vivas do Evangelho, pois teu exemplo poderá ser o único modo pelo qual teu irmão conheça as lições do Cristo Jesus". Esse processo de (m)edi(ta)ção pode, portanto, começar pela análise da capa até o ponto final, uma vez que se trata de um trabalho contínuo que não rato transcende o último capítulo do livro que é nossa vida. Assim como é imprescindível cuidar do "miolo", é importante também apresentar uma aparência atraente - embora saibamos que não se deve julgar um livro por sua capa -, dando atenção ao título dessa publicação.

"Me editar", em suma, é cuidar-me com zelo, sabendo que o livro/revista/jornal que sou será "manuseado" e lido por todos que tiverem acesso a mim e, se quero ser bem aceito e recomendado - embora isto não seja o essencial, e sim o colocar-me perante as múltiplas análises -, importa tornar-me no mínimo apreciável.

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