Suicídio

Francisco Muniz


Dizem os Espíritos Superiores, nas obras da Codificação e nas que lhe deram seguimento, que o suicídio é afronta às sábias leis divinas, pondo-o na mesma condição do assassinato. É que a ninguém é dado o direito de tirar a própria vida, tanto quanto a de outrem. Quem assim procede malbarata as oportunidades de renovação que recebeu da Providência Divina, pela bênção da reencarnação, e se infelicita ainda mais, tendo de despender enorme esforço até sua reabilitação completa perante o Criador. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida no mundo, o que representa uma média anual de 815 mil casos de suicídio motivados por causas diversas, dentre as quais o desemprego, a solidão, os desajustes sociais e afetivos, os distúrbios sexuais e a miséria socioeconômica.

Embora possamos dizer que o suicida é levado ao ato extremo pelo paroxismo do desespero, por ver-se sem saída ante os angustiosos problemas que enfrenta, fazendo-o perder qualquer resquício de fé em Deus ou num futuro melhor, o fato é que, em suma, é o apego à vida material que move o responsável por esse gesto tresloucado. Em O Céu e o Inferno, Allan Kardec traça, no capítulo V, o perfil de vários suicidas conscientes - pois que os há inconscientes, e estes o são em maioria sobre aqueles -, interrogando-os após evocá-los. Dessas comunicações, o Codificador retira valiosas lições para o estudante do Espiritismo, especialmente os médiuns trabalhadores.

Cabe aos espíritas, de modo especial, o trabalharem intimamente para vencer os arrastamentos do materialismo, que são o maior empecilho ao aperfeiçoamento moral. É que também contam-se entre os espíritas os casos de suicídio, geralmente os do tipo inconsciente. O caso do Espírito André Luiz é o mais citado nesse aspecto, embora ele não fosse espírita em sua última encarnação na Terra. Entre os suicídios inconscientes alinham-se também aqueles que não culpabilizam o Espírito, que se vê mais vítima que algoz de si próprio, por circunstâncias que fogem a seu controle. É o caso dos homens tomados pela loucura ou pela doença - ou mesmo pela obsessão, embora, conforme alertam os Instrutores Espirituais, os espíritos tenham sempre o poder de usar o livre arbítrio, resistindo às influenciações.

O autor italiano Ernesto Bozzano descreve, em seu livro A Crise da Morte, um desses casos de suicídio em que o Espírito despertou no plano espiritual sem as agruras de que se veem presas os suicidas conscientes. Tratava-se de um médico inglês que "voltou da guerra em estado de esgotamento nervoso, agravado pelo fato de haver na sua família uma forma hereditária e deprimente de hipocondria (spleen). Daí resultou que um dia doutor Scoott se suicidou, ingerindo uma dose de ácido prússico".

Por comunicações dadas através da mediunidade da viúva desse médico, o Espírito revelou sua condição de relativo bem estar após o despertamento. O fato chamou a atenção de Bozzano, uma vez que a maioria dos relatos de suicidas aponta para um ponto em comum, o da dor moral que advém para esses espíritos, que permanecem por longo tempo rememorando dolorosamente o momento da morte do corpo, sentindo que a pretendida aniquilação não veio.

Bozzano, ante a contradição entre o caso que registrara e a unanimidade dos relatos desse gênero, diz, após a explicação dada pelo Espírito do médico, que este "se encontrou num meio de luz, não obstante o seu suicídio, foi por não lhe caber a responsabilidade da ação insensata que praticara, a qual resultou de uma enfermidade psíquica hereditária, conhecida em psiquiatria sob o nome de "melancolia" e que muito frequentemente termina por um acesso de loucura do suicídio". É bom anotar que as observações do pesquisador italiano passaram ao livro no ano de 1926.

Podem ficar também nesse gênero os casos de suicídios induzidos, nos quais a pessoa, a tal ponto pressionada, não vê alternativa senão dar cado de sua vida. A esse respeito, Allan Kardec diz, no capítulo VII de O Céu e o Inferno, que "ninguém é responsável senão pelas suas faltas pessoais; ninguém sofrerá as penas das faltas dos outros, a menos que lhes haja dado lugar, seja em provocando-as com o seu exemplo, seja em não as impedindo quando tinha esse poder. Assim é que, por exemplo, o suicida é sempre punido; mas aquele que , pela sua dureza, leva um indivíduo ao desespero, e daí a se destruir, sofre uma pena ainda maior".

O jornalista Altamirando Carneiro, de São Paulo, ressalta, repetindo Kardec, que as doutrinas materialistas são as maiores incentivadoras do suicídio, razão pela qual os maiores índices de casos assim estão nos países ateus, tais a Rússia, Cuba, Lituânia, China, Letônia e Estônia. Já os números mais baixos ocorrem em países islâmicos, hinduístas, cristãos e budistas. É que, ante o desespero, aquele que nada espera de seu futuro julga que com o fim da vida tudo termina. A hipótese do suicídio lhe parece, assim, uma solução natural, até mesmo lógica. No entanto, já no século XVIII o escritor inglês Samuel Johnson já dizia: "Quem nunca viu a adversidade conhece apenas um lado da vida".

As ideias materialistas atormentam o raciocínio daqueles que já sofrem com a desesperança. Os cientistas dizem que o pensamento é fruto do cérebro e se extingue com a morte do corpo, nada se tendo a esperar depois da vida. Por seu lado, os filósofos modernos pregam o niilismo: viemos do nada e o nada é nosso destino. Como, então, o indivíduo sem esperança pode encontrar motivos para continuar vivendo? "A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade" - eis o que ensina-nos O Evangelho Segundo o Espiritismo.

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