Hora de ir para a escola

Francisco Muniz

(do livro Lições do Evangelho para a vida prática)


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O mundo, diz-se, é uma escola, a professora é a Vida e você veio aqui, mais uma vez, para aprender, como todo mundo... Somos, assim, alunos alisando continuamente o banco escolar e a verdade é que não paramos de aprender, o tempo todo somos confrontados com lições importantes para o bem viver e compete-nos prestar atenção em tudo que nos acontece a fim de tirarmos o melhor proveito com vistas às aplicações futuras desse aprendizado. Em tudo há finalidade, posto nada acontecer por simples acaso. Se você prestar bastante atenção, compreenderá não um fatalismo na vida, mas o determinismo presente nas circunstâncias existenciais que nos fará considerar o mecanismo inteligente, sábio e justo, porque perfeito, das leis de Deus. Nisto consiste nosso aprendizado: em conhecermos e obedecermos às divinas determinações, entendendo nossa condição de filhos da Divindade em trânsito no mundo.

Convém, portanto, que não sejamos alunos relapsos e nos dediquemos com afinco às orientações da mestra Vida, embora estas sejam tão sutis que muitas vezes nos chegam e passam despercebidas... Eis então que o Pai amoroso, desejoso de colaborar para nosso aprendizado, tem-nos enviado seguidamente os intérpretes de suas leis e o maior deles é o Cristo Jesus, em cujos ensinamentos compulsados nos evangelhos encontramos o maior repositório de sabedoria que o mundo já conheceu. É lá que ouviremos, mais uma vez, esse Amigo inolvidável nos convidando ao trabalho com ele, no serviço abnegado em favor dos mais necessitados, o que constitui a aplicação prática de nosso aprendizado: "Meu Pai trabalha desde sempre e eu também trabalho", dizendo assim que não podemos ficar de braços cruzados, esperando que os Céus atendam nossas preces e nos cumulem de benesses. Somente correspondendo à solicitude da Providência, que nos reclama a colaboração solidária junto aos irmãos de caminhada evolutiva, é que nos veremos aquinhoados do acréscimo de misericórdia de que nos fala o Evangelho, porquanto seja imprescindível busquemos "primeiramente o Reino dos Céus e sua justiça", isto é, procurarmos cumprir não a nossa, mas a vontade de Deus e assim estaremos cumprindo nossa tarefa pessoal.

Perguntássemos em que consiste essa tarefa e ouviríamos em resposta que estamos no mundo para, em suma, aprendermos a sair dele, ou seja, vencermos o quanto antes o domínio da matéria perecível sobre o espírito imortal através de atitudes cada vez mais conscientes de nossa condição, ponderando acerca de nossa origem divina e destinação cósmica. O Cristo nos convida a tal esforço, tanto ao dizer que estamos no mundo mas não pertencemos a ele quanto nos informa que nos prepara um lugar numa das "muitas moradas da Casa de meu Pai". Há toda uma ciência transcendental nessas palavras que urge analisarmos, assimilarmos e viver, uma vez que tratam de nosso futuro aqui ou em qualquer dos outros mundos que povoam o Universo. O Cristo compara essa situação a um reino muito especial, o Reino dos Céus, embora a mente pouco esclarecida identifique esse reino longe do planeta Terra. Em verdade, esse reino é unicamente o domínio do Espírito, o que se expõe em várias parábolas referidas por Jesus no Evangelho, como a do trabalhador da Vinha, por exemplo. Ali, Jesus compara o Reino dos Céus a um homem que, trabalhando num campo, encontra um tesouro: "Que faz ele? Vai, vende tudo que possui, compra esse campo e toma posse do tesouro". Deduz-se portanto, que esse campo é a própria vida e o tesouro é a alma mesma, que deve ser buscada e cultivada para possibilitar o auto encontro, quando então o Reino dos Céus será construído no altar do coração do homem cristificado.

Não é tudo, porém. Através dessa parábola - e de outras semelhantes, como a do Filho pródigo - temos a chave para interpretarmos e compreender certas lições do Cristo quanto a nossa necessidade de conhecermos a verdade e assim tornarmo-nos livres do domínio da matéria sobre nossa condição espiritual. Uma dessas lições é a em que Jesus diz a seus apóstolos: "Para o lugar aonde ireis não devereis levar coisa alguma, pois o que levardes poderá impedir vossa passagem pela porta estreita". Entendemos que a "porta estreita" representa, a princípio, nossa reentrada no mundo espiritual, pela experiência da morte física. Nesse momento, como é natural, nada levaremos de material conosco, de modo que o impedimento não está na posse dos bens materiais, mas no modo como possuímos essas coisas, condicionando muitas vezes o apego. E o apego em nós nada mais é que uma ideia, um conceito, uma forma de analisarmos a nós mesmos, aos outros junto a nós e a própria vida. E tudo isto se apresenta para nós como reminiscências de construções do passado, especialmente nosso sistema pessoal de crença, resultando em comportamentos tradicionalistas, antiquados e comprometidos com valores superados ou a superar.

Torna-se, pois, imprescindível abrir mão dos conhecimentos antigos em proveito das novas lições que nos capacitarão ao encontro da tão sonhada felicidade. "O homem velho deve dar lugar ao homem novo", diz-nos o Cristo, convidando-nos a essa tarefa pela renúncia de nós mesmos, isto é, renúncia aos valores do passado para que possamos chegar à condição de homens/espírito evangelizados. Como estamos nesta escola chamada Mundo, aprendendo com a professora Vida, vemo-nos consequentemente em processo de transformação pela reeducação de nós mesmos, de modo que devemos entender a necessidade de, nesse processo, desaprendermos tudo que sabíamos até aqui para que o aprendizado novo se instale em nossa consciência. É como diz o escritor espírita Hermínio Correa Miranda: "Para aprendermos o Espiritismos é preciso desaprendermos tudo que sabemos".

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TAREFA DO APRENDIZ
(Irmã Rafaela)

Então, se é o que queres, por contares com todo o amparo do Alto e com os recursos com que Deus capacita os escolhidos, esforçate na tarefa do aprendizado a fim de te transformares numa luzinha um pouco maior que esta que já apresentas. Busca mais, que a busca se te afeiçoa, e encontrarás cada vez mais oportunidades de servir à Causa justa, que é a de reunir as ovelhas esparsas do rebanho, para que sejas um fiel auxiliar do Divino Pastor. Trabalha em teu proveito ajudando os demais, dando de ti a quem ainda não descobriu que tem e amparando aqueles que ainda não sabem caminhar. Tua luz apontará um dia o melhor caminho a percorrer, assim como o Cristo veio certa vez ao mundo mostrar a via da Verdade aos homens, para que mais ninguém ande perdido. Caminha, retirando os obstáculos do caminho e tornando a senda mais confiável aos que vêm na retaguarda. É este teu fanal na Terra e se fizeres bem teu trabalho grande será tua recompensa. Trabalha, pois, consciente de que são do trabalhador as alegrias que envolvem aqueles que se empenham no serviço de elevação.

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