Dramas da desencarnação

Francisco Muniz


Aprendemos com Allan Kardec que, como afirma o Codificador em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que este conhecimento doutrinário é um preservativo da loucura e do suicídio, levando-nos deduzir que conhecer o Espiritismo é saber da própria vida, do que se é verdadeiramente e do que nos aguarda no futuro. Por tal razão, a Doutrina Espírita se nos apresenta tanto consoladora quanto libertadora, pelo esclarecimento que nos dá sobre a importância da vivência espiritual em face das agruras experimentadas na realidade material. Isso quer dizer que se não se esclarecer a respeito da verdade da vida, que jamais cessa, prolongando-se em outra dimensão, o homem – espírito imortal em viagem milenária pelo tempo e pelo espaço – vê-se sempre perturbado, confuso, perdido, necessitado da correta orientação para transitar no mundo dos Espíritos. Caso contrário, a criatura que se manteve deliberadamente distante da realidade espiritual irá padecer os tormentos compatíveis com sua condição de momento.

É disso que trata o Espírito Manoel Philomeno de Miranda no capítulo 24 de seu livro Reencontro com a Vida (psicografia de Divaldo Franco), falando em “perversidade e suicídio”, considerando a situação de seres acometidos de transtornos da personalidade – “em expressivo número” – porquanto “incursos nos códigos de resgate compulsório". Assim, “quando não logram atender as paixões que os comburem, optam pela perversidade, culminando na fuga terrível do corpo através da armadilha do suicídio”. O texto de Philomeno faz-nos recordar antigas, mas sempre atuais, palavras do mentor Emmanuel, que através da psicografia de Chico Xavier afirma que loucura, verdadeiramente, é não viver a realidade espiritual. Assim, é fácil percebermos que há muitos “loucos”

Para Philomeno, esses espíritos constituem, no plano espiritual, “grupos de perversos, desarvorados e impiedosos, acusando as Divinas Leis que não souberam ou não quiseram respeitar, entregando-se aos mais sórdidos desvarios, e voltando-se contra a sociedade terrestre da qual desertaram covardemente”. O Instrutor espiritual informa que assim se formam “os processos enfermiços no corpo somático das vítimas” desses seres infortunados, processos esses “que se confundem com as moléstias catalogadas pela Medicina, entretanto, para as quais as terapêuticas vigentes não conseguem uma solução”.

E a razão para isso é fácil de ser percebida: “Porque são infelizes, comprazem-se em espraiar o desespero e alcançar o maior número possível de semelhantes na desdita em que se encontram”, caracterizando, desse modo, os quadros de obsessão, a princípio sutis e se agravando enquanto os encarnados não tomem as medidas profiláticas. Não se pense, contudo, que tais quadros aconteçam à revelia da justiça divina, uma vez que os processos de intercâmbio e influência espiritual obedecem às leis de afinidade e reciprocidade; recordemo-nos do que ensina Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, afirmando que toda obsessão começa a partir de uma auto-obsessão.

Mas Manuel Philomeno pede-nos cuidado em relação a tais espíritos porque eles “não são menos cruéis que os obsessores que se dedicam ao conúbio da vingança em razão de acontecimentos pessoais desditosos no pretérito”. Pois sentem inveja e ciúme da situação dos encarnados e então “o ressentimento apossa-se-lhes das emoções transtornadas e somente pensam em tornar a vida um inferno pra os que estão no corpo ou fora dele”. E vemos em Kardec a explicação desse fato: “Os maus espíritos são atraídos pelos homens felizes ou infelizes como as moscas procuram o mel ou a ferida”.

No entanto, são espíritos “infinitamente desditosos”, como pondera Philomeno, de modo que merecem auxílio da infinita misericórdia: “Dignos de igual compaixão, devem ser considerados os irmãos em agonia, que o Inefável Amor reconduzirá à Terra em situação muito dolorosa, no cárcere das expiações inconcebíveis, por eles mesmos, embora inconscientemente, elaboradas”. O tempo, então lhes trará o remédio que não souberam utilizar para sanar os próprios males, mercê na bondade divina: “Depurar-se-ão, aprendendo a respeitar o dom sublime da vida, que é constituída pela essência do amor de nosso Pai”.

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