A arte de doutrinar Espíritos


Francisco Muniz


Em primeiro lugar, convém dizer que o termo “doutrinar”, embora largamente disseminado, é, segundo o Espírito André Luiz, inadequado para a função a que ele se destina no intercâmbio com os seres do mundo espiritual. Assim é que no livro Desobsessão (André Luiz, por Chico Xavier e Waldo Vieira), o “repórter do Além” – como André ficou conhecido entre nós, a partir das notícias trazidas nos livros ditados a partir de Nosso Lar – prefere a palavra esclarecer, mais condizente com a tarefa dos médiuns encarregados desse mister junto às entidades ainda rebeldes ou simplesmente ignorantes de sua condição evolutiva. Sim, o médium doutrinador, ou esclarecedor, tudo que faz é informar os Espíritos sofredores ou renitentes no mal que eles estão numa condição diferente da dos encarnados e precisam ampliar a consciência quanto a realidade que então vivenciam.

Assim entendendo, concluiremos que a doutrinação propriamente dita os médiuns fazem a si próprios, assimilando e vivendo o quanto possível os preceitos doutrinários do Espiritismo, que revive para nós toda a pureza dos ensinamentos do Cristo Jesus, razão pela qual Allan Kardec nos diz, nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma só pessoa. Isso quer dizer que devemos cumprir a série de 18 princípios característicos do homem de bem, procurando manifestar o amor incondicional ensiando pelo Mestre Nazareno, perdoando toda e qualquerr ofensa e manifestando total fé na vida futura, moralizando-se a pouco e pouco. Somente assim é que o médium envolvido nas tarefas de esclarecimento dos Espíritos logrará algum êxito, por exprimir-se com suficiente credibilidade, afinal, as entidades renitentes ocasionalmente perguntam: “Quem é você para me dizer essas coisas, se não faz nada disso?”

Esclarecer, ou doutrinar, não é atividade fácil, como se percebe. No título deste artigo dizemos que se trata de uma arte. Deste modo, exige que conheçamos suas técnicas, uma vez que elas se fazem necessárias conforme o caso que se nos é apresentado. Não há, a rigor, duas doutrinações iguais, porquanto se os casos são parecidos, algumas vezes, eles têm peculiaridades que os tornam diferentes entre si, de modo que o médium precisa estar aparelhado para responder a qualquer desafio com que tenha de se defrontar. De acordo com o escritor Hermínio Miranda, que nos deixou uma obra riquíssima sobre a arte de doutrinar, a exemplo de Diálogo com as Sombras, as técnicas podem ser muito importantes, mas elas serão sempre inócuas se ao esclarecedor faltar o recurso principal na lida com os Espíritos: o amor. Além disso, recordemo-nos da ponderação do psicanalista Carl Gustav Jung: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”.

Falamos aqui daquele amor que não somente é compaixão ante a dor do próximo (não se deve esquecer jamais que o Espírito infortunado, por mais arraigado ao mal que esteja, é um irmão que precisa de consolo e condução para o bem), mas também enégica admoestação por não se ser conivente com as ações malévolas praticadas contra outrem. O Cristo ensina assim e deu os exemplos a serem seguidos por todos aqueles comprometidos com Sua causa e possuidores dos olhos que veem e dos ouvidos que ouvem. Para a boa prática da doutrinação, portanto, é imprescindível o conhecimento evangélico tanto quanto a aquisição de conhecimentos que enriqueçam a cultura do médium, uma vez que ao espírita é dado dois mandamentos: amar e instruir-se. Não é por outra razão que Kardec se valeu dos livros e da imprensa para disseminar os novos conceitos trazidos pelos Espíritos Superiores. Por isso é vasta a literatura espírita.

Resumindo, a doutrinação é arte que deve ser aprendida a fim de ser exercitada com eficácia, beneficiando todas as partes envolvidas no processo de intercâmbio mediúnico, e o Centro Espírita é o local mais propício a esse aprendizado. Os ensinos promovidos nos grupos de estudos regulares, os seminários e as atividades de aprimoramento mediúnico, tanto quanto as reuniões doutrinárias têm a finalidade de despertar a atenção para o fato de que ninguém nunca está a sós e que é preciso aprender a “conversar” com nossos acompanhantes invisíveis, através de uma prece ou da adoção de uma condição mental que, manifestando pensamentos elevados, possibilite tanto atrair os bons quanto afastar os maus Espíritos.

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