Impositivos do retorno à Pátria Espiritual

Francisco Muniz

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Uma observação mais judiciosa quanto aos esforços dos Espíritos Superiores, em nome do Cristo, de virem nos fazer despertar, através do trabalho exemplar de Allan Kardec, para a realidade da Vida Imortal, levar-nos-á a concluir que o Espiritismo constitui, para todo aquele que se dispuser a estudá-lo, um curso de educação para a morte. Trata-se, portanto, da renovação do convite do Cristo para a mudança de pensamento e atitude com relação à vida material, por si mesma transitória, ante a verdade da vida futura, sendo imperioso o exame aprofundado destas palavras de Jesus: “Estais no mundo mas não pertenceis a ele”.
É disso que o Instrutor Manoel Philomeno de Miranda (foto) vem tratar no primeiro capítulo da segunda parte de seu livro Reencontro com a Vida, pela psicografia de Divaldo Franco, chamando-nos a atenção para o fato de que a inexorabilidade da morte física é parte inseparável da equação da vida biológica. No entanto, a criatura humana é mais, muito mais que o amontoado de carne, ossos e sangue, porque um ser pensante, e por isso deveria ao menos observar a transitoriedade da vilegiatura carnal, embora veja e sinta o periclitar das forças e das condições do carro orgânico, que assinalam o fim do ciclo existencial.
Segundo Philomeno, ao homem “tudo lhe fala sobre a fragilidade do organismo, a sua temporalidade, os riscos a que está sujeito, no entanto, o engodo que se permite o indivíduo faz que ignore esses impositivos de alta significação”. Não se faz, assim, planos para a despedida, apenas para o gozo, através do acúmulo de quinquilharias e da disputa de primazias e favores, lutando-se por migalhas enquanto se explode de ira e cólera ante as contrariedades. Quando se poderia adotar um comportamento mais lógico e saudável: “Considerasse, no entanto, a jornada material na condição de uma experiência com limites estabelecidos de tempo e oportunidade, muito diferente seria a sua maneira de viver e de ser”, pondera o Instrutor.
Para ele, “a preparação para a morte merece um tratamento pedagógico semelhante ou talvez mais cuidadoso do que aquele apresentado pelo currículo existencial”. Ou seja, as escolas, nas suas variadas expressões de ensino, deveriam oferecer meios para a reflexão, por parte de seu alunos, sobre tão crucial momento, o da iminência do retorno ao mundo da verdade, porquanto a Religião tem se mostrado ineficaz nesse propósito de desfazer as impressões materialistas na mente das criaturas. “Criando o hábito de pensar na interrupção das atividades, na cessação dos programas, a ação teria procedimentos felizes e enriquecedores de paz”. Quem fala assim tem a autoridade de quem já vive do “outro lado”, onde quem não fez um bom estágio na Terra padece às vezes terrivelmente.
“Morrem sem dar-se conta da ocorrência, continuando na azáfama a que se entregavam”, revela Philomeno, salientando que “terrível frustração sucede a esses que assim procedem, quando o guante da desencarnação lhes interrompe o galopar dos desejos e da loucura a que se entregam”. Não houve, conclui-se, o necessário despertamento facilitador da readaptação ao plano espiritual, uma vez que “a leviana indiferença em torno da morte faculta o encharcar-se mais nas paixões sensoriais, nos impulsos primários, nas lutas pela posse, pela dominação de coisas e pessoas”.
Assim, ao chegar ao “outro lado”, essa pessoa só encontra confusão de decepções. “A morte”, atesta o Autor Espiritual, “é somente uma experiência de desvestir uma para assumir outra indumentária, entretanto, prosseguindo na vida”, e esta é incessante e não oferece solução de continuidade: “Quanto menos se prepara o indivíduo para o seu enfrentamento [da morte], mais dolorosa se lhe apresenta no momento em que se impõe”. Por isso “o hábito de pensar no fenômeno inevitável produz aceitação da ocorrência, predispondo a uma natural conduta diante dele, o que faculta mais imediata liberação das ataduras e fixações emocionais em relação ao fardo celular”.

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