Calma e perseverança em Deus

Norma Lúcia Novaes



O homem vive incessantemente em busca da felicidade, mas não a encontra, porque felicidade sem mescla, sem "mistura", não é encontrada na Terra. Porém, se começarmos a dar importância aos bons sentimentos, que vêm dos bons pensamentos, vamos observar que na vida, apesar das instabilidades (as vicissitudes de que fala o Evangelho), o homem poderia gozar de relativa felicidade.
Como gozar dessa felicidade relativa? Não procurando a felicidade nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, instabilidade e inconstâncias que estão nos gozos materiais, que servem apenas à aprendizagem do espírito enquanto encarnado; uma forma de adquirir experiência. E não se ensoberbecendo com a vida material, esquecendo-se de cultivar as coias do mundo espiritual.
Os gozos da alma vêm a desenvolver no homem uma satisfação imperecível, porque eterna, e constitui-se num aprendizado a caminho da bem-aventurança.
A única felicidade real no mundo é a paz do coração. Mas o homem no mundo, tornando-se ávido de tudo o que o agita e o coloca em desordem, aflige-se e atrapalha-se, porque toda esta ligação desregrada com as coisas do mundo material obscurece a luz que está no fundo do seu coração e lhe dá o sentido de Deus. As coisas materiais não são apenas aquelas que o dinheiro pode comprar, mas também as de que está cheio o coração: maus pensamentos, maus sentimentos, devido a uma vivência toda calcada na personalidade, não se reconhecendo um filho de Deus - um espírito criado a Sua imagem e semelhança.
Com aluz obscurecida, o homem se torna desarmonizado, primeiramente, consigo e, depois, com o outro.
O coração turbado é que leva o homem a viver ainda o processo de desinteligência, porque a alma embaraça-se, perturba-se, turva-se, passando a revolver o que de pior há dentro de si, abrindo campo para as angústias, confusões mentais, psíquicas, de relacionamentos (pessoais, de amizade, familiares, profissionais e outros) e todo tipo de adoecimento, assim como de espíritos interferentes - os chamados obsessores - encarnados e desencarnados.
O Espírito Fénelon diz, na sua mensagem "Tormentos voluntários" (em O Evangelho Segundo o Espiritismo), que toda a experiência de conturbação do homem é muito singular, curiosa, até incompreensível... porque, afinal, qual o motivo de o homem aplicar a si mesmo os seus próprios tormentos? De onde vem essa má intenção consigo mesmo? A falta da busca de Deus em si próprio? Porque toda a boa construção humana e espiritual, para vivermos bem - espiritual e materialmente - e no bem está em nossas próprias mãos.
Os maiores tormentos que o homem cria para si mesmo, ainda segundo Fénelon, são os derivados da inveja e do ciúme. Para o invejoso e o ciumento, não há repouso mental. Vivem em uma grande agitação, observando o que não têm, mas ou outros têm - e isso lhes causa um tormento.
Observar o êxito dos outros, que considera rivais, os confunde e os excita e atrapalha. Todo o estímulo que têm na vida é encobrir a luz, o progresso das pessoas que lhes estão próximas. E aí sentem alegria de unirem-se aos insensatos, como eles próprios, para incitar-lhes a raiva, a desconfiança, o ciúme e a inveja que os devoram, formando grupos afins. Não imaginam, porém, que com o passar do tempo vão ter que deixar todas essas mesquinharias, insignificâncias e futilidades, cuja cobiça lhes envenena a alma e, consequentemente, a vida.
Não é a eles que se aplicam estas palavras de Jesus: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados", porque, completa Fénelon, "as preocupações dos insensatos não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas".
Aquele, porém, que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é, sempre é rico, porque quando olha pra "baixo" de si, e não para "cima", vê sempre criaturas que têm menos do que ele; é calmo, porque não cria para si necessidades ilusórias.
"E a calma não é uma felicidade em meio às tempestades da vida?"

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(Texto baseado na mensagens "Tormentos voluntários" (ESE), do Espírito Fénelon.)

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