O Reino de Deus, o ego e o Eu Divino

Trago aqui duas importantes reflexões do filósofo Huberto Rohden, brasileiro que iniciou os conceitos da Filosofia Univérsica, através da qual interpreta as palavras mais profundas e enigmáticas do Evangelho de Jesus.

1.
(...) O Reino de Deus no homem não é algo adicionado ao homem, algo como um artigo de luxo que o homem use de vez em quando, como enfeite festivo. “O Reino de Deus está dentro de vós”, assim como a Vida está dentro dos vivos; é a alma, essência e quintessência do homem. Nenhum ser vivo seria vivo se nele não estivesse a Vida, e se ele não estivesse na Vida. Todo o vivo pode dizer: Eu e a Vida somos um; a Vida está em mim, e eu estou na Vida – mas a Vida é maior do que eu.
Deus é a Vida, e nós somos os vivos. Essencialmente, cada um de nós é Vida; existencialmente, somos vivos.
Quando os vivos se deixam penetrar totalmente pela Vida, então os próprios vivos, a princípio pequeninos como um grãozinho de semente, serão engrandecidos pela Vida, e os vivos pequenos serão a tal ponto beneficiados pela Vida que se tornarão vivos grandes. O maior benefício que o vivo pode fazer a si mesmo é deixar-se penetrar pela Vida. A Vida é o maior benfeitor dos vivos.

2.
Eu divino é o maior benfeitor do ego humano, embora este, na sua ignorância, muitas vezes seja inimigo do Eu. Neste sentido diz Krishna na Bhagavad Gita: “O Eu é o maior amigo do ego, embora o ego seja o pior inimigo do Eu”.
E o próprio Cristo, no Evangelho, afirma: “Quem quiser salvar a sua vida (ego), perdê-la-á; mas, quem perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho (Eu) salvá-la-á”.
O maior benefício que o ego humano pode fazer a si mesmo é entregar-se e integrar-se totalmente no Eu divino; e o maior malefício que o ego humano pode fazer a si mesmo é isolar-se em si mesmo e resistir à sua integração no Eu divino.
O ego que não se integra no Eu se desintegra. O ego que tenta realizar-se sem o Eu se desrealiza. Mas o ego que se integra no Eu, que integra o seu pequeno finito no grande Infinito, esse eterniza o próprio ego, graças à sua integração no Eterno. E quando o ego humano se integra voluntariamente no Eu divino, pela mística do primeiro e maior de todos os mandamentos, então não somente se beneficia a si mesmo, mas torna-se benfeitor também de outros egos humanos, pela ética do segundo mandamento, amando seu próximo como a si mesmo. Por isto diz o Mestre que as aves do espaço fazem seus ninhos nos ramos da mostardeira – outros homens encontram refúgio e refrigério no homem que se refugiou e realizou em Deus, que atingiu a sua maturidade e plenitude no Infinito.


Fonte:
Rohden, Huberto - A Sabedoria das Parábolas, Ed. Alvorada, 6ª ed. São Paulo, 1991.

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