O Espiritismo e o Movimento Espírita

Paulo de Tarso


Uma vez o médium Divaldo Franco, parafraseando Deolindo Amorim, disse que o movimento espírita está bastante movimentado. De fato, eis uma boa verdade. De um lado, revivemos aqueles perfis de detratores listados por Kardec em Obras Póstumas, quais eram: Os divertidos, que só se interessam pela alegria dos fenômenos; os parasitas, que se utilizam do movimento para ganhar fama e poder; os de contrabando, que estão na doutrina para insuflar as mais comezinhas pequenezas humanas, destilando insubordinação e conflitos nos agrupamentos aos quais pertencem e os discordantes do método, os quais ainda insistem em discordar dos métodos de Kardec e do resultado do seu trabalho, afirmando estarem em desacordo com a atualidade.Além destes, temos ainda os claudicantes, que desfalecem ante a não obtenção das graças desejadas de curto prazo e os abnegados e sinceros, os quais querem profundamente compreender mais do que serem compreendidos, firmar uma razão sobre os postulados históricos da doutrina, legada à humanidade como remédio às suas feridas existenciais. Todos estes perfis fazem o que se chama de movimento espírita.
A Doutrina Espírita, por sua vez, é um ente separado, que serve de referência para o movimento, sem emprestar-lhe qualquer relação de dependência. A falência de um movimento não enseja a falência da doutrina que lhe serve de modelo, visto que a mesma pode ser deturpada de inúmeras formas, pelos mais diversos motivos. Basta ver o que fizeram do Cristianismo para se ter uma pálida ideia do que somos capazes. Os fundamentos espíritas, bem como a ciência e a filosofia de ordem moral que lhes são consequentes, são legado para a humanidade e estarão vivos e atuais mesmo com o passar dos milênios. Se esta não é compreendida, vivida, experienciada, não é por falha sua, mas por falta de estudo, prática e estágio evolutivo dos seus profitentes.
Acabe o movimento espírita e a Doutrina dos Espíritos estará lá, viva e atual, pronta para ser compreendida e experimentada por quaisquer que sejam os povos e culturas. Ela é intercambiável nas religiões e agrupamentos étnico-sociais; ela é base de sustentação para outras correntes filosóficas e existenciais. Jamais será peça descartada por consequência da nossa indolência em compreendê-la na sua inteireza.
Se há relatos de agrupamentos humanos ditos espíritas em dissintonia com aquilo que era esperado da perfeita vivência do espiritismo, não se deve confundir estes atos com a doutrina. São apenas homens vivendo as suas imperfeições na ilusão de que a consequência pode ser maior do que a causa, o que seria uma imensa falta de lógica. A doutrina nos ensina a ter com estes a indulgência e, se por acaso formos as vítimas de tais circunstâncias, haverá sempre o recurso do perdão. Além disto, a percepção de que somos espíritos imortais, legatários da nossa própria ceifa, amplia as possibilidades de ressignificação dos problemas, abrindo um leque de outras opções de recomeço e acerto. O espiritismo não será o que fizermos dele, mas nós podemos ser aquilo que o espiritismo fizer de nós.

Salvador, 24/07/2017

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