Mediunidade e reforma íntima

Francisco Muniz



No que tange aos médiuns espíritas, principalmente, a mediunidade e seu exercício consciente se oferecem como fatores estimulantes do auto aprimoramento pessoal. A noção de responsabilidade decorrente do intercâmbio espiritual em muito auxilia no auto exame que o medianeiro necessita fazer, como parte do processo de autoconhecimento que leva à reforma interior. A finalidade e a de ele encontrar-se cada vez mais capacitado à realização de suas tarefas como intérprete e/ou atendente junto aos Espíritos, sejam estes os sofredores ou os orientadores.

“Ser medianeiro das forças elevadas que governam a vida é sintonizar-se com a onda renovadora do Evangelho, que instituiu o “amemo-nos uns aos outros”, qual Jesus se dedicou a nós, em todos os dias da vida” – diz o benfeitor espiritual Emmanuel, em Mediunidade e Sintonia, por Chico Xavier.

O Livro dos Médiuns, conquanto tenha uma característica eminentemente técnica, voltada para a formação e adequação dos médiuns aos mecanismos do intercâmbio com os Espíritos, indica também a necessidade do auto aperfeiçoamento moral, para que o trabalhador da mediunidade seja um intérprete fiel das recomendações do Alto. No tópico sobre a “influência moral do médium” – cap. XX da Segunda Parte do LM -, Allan Kardec questiona os instrutores do Plano Maior sobre as condições necessárias para que a palavra dos Espíritos Superiores nos chegue pura de toda alteração e a resposta merece profunda reflexão de nossa parte: “Querer o bem; enxotar o egoísmo e o orgulho; as duas coisas são necessárias”.

Ora, o orgulho e o egoísmo são a marca dos espíritos estacionados na Terra, conforme nos é informado em O Livro dos Espíritos. Depreende-se, portanto, ser imprescindível depurarmo-nos através do esforço de diminuir o quanto possível e cada vez mais o império dessas duas forças sobre nossa constituição espiritual, pelo aprendizado do Espiritismo e pelo exercício mediúnico, que lhe é consequente.

E isso porque o médium não é apenas um instrumento dos Espíritos, porquanto também exerce uma influência muito grande sobre eles, especialmente sobre aqueles que se lhe identificam pelos laços da afinidade. Há que pensarmos, assim, em atrair sempre os bons Espíritos e este são atraídos pelas boas qualidades: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais, conforme pondera o Codificador. Por outro lado, os defeitos que nos afastam das boas companhias são o orgulho, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se prende à matéria.

Ainda em Mediunidade e Sintonia, livro que recentemente utilizado nas leituras preparatórias no âmbito das reuniões mediúnicas do CEDLV, Emmanuel, no capítulo intitulado “Mediunidade”, pondera que esta faculdade da alma, que radica no organismo, segundo Kardec, “não é pretexto para situar-se a criatura no fenômeno ou no êxtase inútil, à maneira da criança atordoada no deslumbramento da festa vulgar”. Vale reparar que nos arraiais espíritas continuamos a observar quadros semelhantes, como se o Espiritismo fosse um inesgotável campo para espetáculos de exibicionismo.

Mas o mentor de Chico Xavier nos alerta afirmando que a mediunidade “é, acima de tudo, árduo trabalho em que o espírito, chamado a servi-la, precisa consagrar o melhor das próprias forças para colaborar no desenvolvimento do bem”. É claro que ele se refere ao médium e por isso Emmanuel diz que estes precisam ser vigilantes “cultores do progresso, assistindo-lhe a obrigação de aprimorar-se incessantemente para refletir com mais segurança a palavra ou o alvitre, o pensamento ou a sugestão da Vida Maior”.

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