Hora de morrer e desencarnar

Francisco Muniz



No capítulo 12 do livro Reencontro com a Vida, ora em estudo no CEDLV, o autor espiritual Manoel Philomeno de Miranda expõe, pela pena do médium Divaldo Franco, tanto a diferença conceitual entre morrer e desencarnar quanto traça as peculiaridades desses dois processos de despedida da experiência material pelo Espírito imortal. Para Philomeno, morrer é apenas deixar o invólucro carnal que retinha o ser na esfera física, ao passo que desencarnar representa a liberação do Espírito das sensações corporais e seus arrastamentos, facultando a readaptação ao plano espiritual sem maiores perturbações.

Mas é certo que há grande diferença, mesmo, entre morrer e desencarnar, significando tudo isso a possibilidade de uma mudança cultural na esfera da economia espiritual. Isto é: importa fazermos a distinção, a convite do Espiritismo, entre os valores do passado e os do presente, facultando-nos voluntariamente a um novo modo de proceder na vida material, com vistas a uma melhor condição na vida futura, eminentemente espiritual. Em outras palavras, desmaterializarmo-nos.

Porque informa-nos Manoel Philomeno não haver duas mortes iguais e que só desencarna quem aprender , desde a experiência física, a se desvencilhar das fixações emocionais e físicas. Não obstante, o momento da morte, segundo esse autor espiritual, falando genericamente, “sempre se reveste de grave significação para a alma, que é tomada de aturdimento e de aflição”. É o que Allan Kardec chama de perturbação pós-morte, estado esse que pode durar algumas horas até séculos – e por uma razão bastante simples: é que a morte biológica não modifica o ser espiritual, “não interrompe os hábitos mentais (...) continuando a predominar nas paisagens das aspirações íntimas e dos anseios do sentimento do Espírito”.

Por isso, “a desencarnação ocorre somente quando o ser, livre das sensações materiais, permite-se a lucidez e o reencontro consigo mesmo, podendo experimentar as alegrias e as bênçãos da libertação”. Com essa explicação de Philomeno, compreendemos que a desencarnação resulta do esclarecimento do Espírito quanto à própria realidade – e isto pode se dar também no plano espiritual –, uma vez que a pessoa se submeta aos procedimentos disciplinares desenvolvidos em seu favor, porque “à medida que o cadáver entra em decomposição, não raro, as sensações de dores físicas e angústias morais, se prolongam pelo tempo necessário à sua diluição nos equipamentos mentais”.

“Não fosse o amor de Deus que se manifesta através dos Anjos guardiães, encarregados de ajudar os seus pupilos, e tal situação se prolongaria indefinidamente, dando a impressão de eternidade, como, às vezes, pensam alguns alucinados que permanecem nesse estado de desespero”, pondera Manoel Philomeno. Assim, compete aos aprendizes da Verdade pelo Espiritismo, principalmente, envidarem esforços no sentido de se purificarem, a fim de evitar surpresas desnecessárias no além-túmulo, porquanto Jesus declarou que quem estiver sem a túnica nupcial será retirado do banquete e jogado às trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes.

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