Uma aula de Doutrinação

Francisco Muniz


É indubitável que o escritor Hermínio Correia de Miranda deixou uma obra das mais representativas para a literatura espírita no campo da mediunidade. Seus livros oferecem precioso manancial de conhecimentos teórico-práticos para a compreensão dos tipos psicológicos dos Espíritos comunicantes, sendo, por isso mesmo, indicados para o estudo voltado para o bom exercício da doutrinação.
Se o livro Diálogo com as Sombras, publicado pela Federação Espírita Brasileira, pode ser visto como um manual dos doutrinadores, a série Histórias que os Espíritos Contaram – além do primeiro, que leva esse título, os interessados devem conhecer O Exilado, A Dama da Noite e A Filha do Vizir – constituem, a nosso ver, verdadeiras aulas de doutrinação, porquanto ali Hermínio se revela não como aquele que ensina a técnica friamente, mas como o trabalhador de boa vontade sujeito a falhas mas sobretudo disposto a ajudar os necessitados de esclarecimento e consolação, aprendendo com eles a ser melhor, como servidor consciente do Mestre Jesus nas hostes do Espiritismo. Ele é autor também de um marco da literatura espírita no Brasil, o livro Diversidade dos Carismas, em que examina com profundidade as múltiplas faculdades mediúnicas.
Além de trabalhador da mediunidade, Hermínio, desencarnado no início de 2013, foi um acurado pesquisador dos temas ligados ao espiritualismo, que explorava segundo as luzes do Consolador Prometido, deixando um legado que em muito enriquece a biblioteca espírita. São livros como, dentre vários outros, As Marcas do Cristo, que em dois volumes comparam as vidas de Paulo de Tarso e Martinho Lutero; Os Cátaros ou a Heresia Católica, no qual destrincha a perseguição que a Igreja moveu contra a seita cátara no Sul da França, no século XIII, até seu extermínio, graças à instituição da famigerada Inquisição; e Nossos Filhos São Espíritos, verdadeiro libelo contra o aborto e inteligente manual de educação baseado nas noções de reencarnação trazidas pela Doutrina Espírita.
Mas falaremos aqui preferencialmente das obras em que Hermínio coloca sua experiência e seus conhecimentos teóricos sobre a doutrinação, como a série Histórias que os Espíritos Contaram e Diálogo com as Sombras, acima citados. Nesses livros o autor define os tipos espirituais que constituem a generalidade das comunicações mediúnicas, deixando à parte a orientação dos mentores, ou dirigentes espirituais das reuniões. São eles o sofredor comum, o revoltado, o obsessor e o inimigo do Cristo ou da Doutrina. Importa analisar as comunicações para que possamos fazer tal identificação e, imbuídos de boa vontade quanto do imprescindível conhecimento doutrinário, oferecera a essas entidades o auxílio de que necessitam para melhor conduzirem seus caminhos a partir do esclarecimento.
Nunca é demais recordar que, como espírita, Hermínio Miranda era também fiel seguidor das recomendações de Allan Kardec e essa condição transparece em todos os seus escritos. Contudo, ele soube desenvolver, a partir das orientações do mestre lionês, um trabalho marcadamente centrado em seu entendimento acerca do Evangelho de Jesus, nos moldes que Emmanuel proclamara um dia a seu pupilo, Chico Xavier: ‘Se alguma vez eu lhe disser algo que contrarie Jesus e Kardec, esqueça o que eu disse e fique com Jesus e Kardec”.
Desse modo, no texto de abertura de Histórias que os Espíritos Contaram – primeira edição publicada pela Livraria Espírita Alvorada Ltda. (LEAL) em 1980 -, prefaciado por ninguém menos que a Veneranda Joanna de Ângelis, Hermínio propõe um pacto com o leitor ao alertar para a veracidade dos casos ali relatados. Segundo ele, trata-se de “um momento grave e solene que precisa ser vivido e presenciado com dignidade e respeito ao ser que ali está expondo suas feridas mais íntimas”. Com efeito, é assim que deve se comportar o doutrinador comprometido com o bem e a verdade, em nome do Cristo e da Doutrina que abraçou e lhe dá a oportunidade do serviço, na intimidade da Sala Mediúnica.
É, portanto, dever do médium esclarecedor enriquecer seus estudos e conhecimentos com a leitura dessas obras, a fim de melhor colaborar nos esforços do Cristo no resgate das ovelhas transviadas de seu rebanho, além de aproveitar essas experiências para o próprio crescimento espiritual. “É das sombras dessas tragédias e dessas dores superlativas que emergem renovadas esperanças e que se revela, em toda a sua beleza, a maravilhosa perfeição das leis universais do Amor”, ressalta Hermínio na introdução de seu trabalho, salientando que foi por isso que resolveu tornar públicas as conversas mantidas com esses nossos irmãos sofredores desencarnados.

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