Um certo “koan” zen-budista narra que determinado homem, disposto a
alcançar a iluminação de si mesmo, retirara-se para o alto de uma montanha e
ali se dispunha a meditar, longe de tudo e de todos. O tempo foi passando e uma
certa fama foi se formando e crescendo em redor desse homem. Um dia, alguém resolveu
também atingir a iluminação e subiu aquela montanha desejoso de aprender com
aquele homem que a fama tornara sábio.
Chegando lá, esse alguém encontrou o eremita sentado na posição de
lótus, meditando de olhos fechados. Assim, sentou-se em frente a ele e aguardou
que o sábio despertasse. Quando isto enfim aconteceu, o eremita pôs-se a fixar
seus olhos no recém-chegado, sem nada dizer. O outro, igualmente, manteve-se em
silêncio durante algum tempo até que manifestou o cansaço da impaciência e
questionou:
- Então, quando é que você vai começar a me ensinar?
O eremita, nesse momento, abriu a boca e declarou:
- Eu pensei que você tivesse vindo me ensinar!
E
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ssa historinha é bem representativa da dificuldade que o homem encontra em
sua busca pelo conhecimento da Verdade, sendo a verdade aquilo que nos
esclarece acerca de nós mesmos – daí a necessidade de se atingir a iluminação
-, mostrando nossa natureza mais intrínseca, nossas origens, nossa destinação,
a razão das circunstâncias felizes ou perturbadoras que enfrentamos, bem como
os meios de superarmos os obstáculos, garantindo nossa perfeita felicidade, se
possível vencendo o que se nos apresenta como o maior dos percalços, porquanto
inevitável: a morte.
É certo que durante muito tempo
essas questões tiraram e ainda tiram o sono de muita gente, e a despeito dos
esforços dos filósofos, dos profetas da Antiguidade, dos gurus do Oriente e dos
homens sábios de todas as cultura – muitas delas já sepultadas -, quase
ninguém, isto é, bem pouca gente, na vasta floresta humana, se dispõe a
mergulhar fundo nas orientações de um certo Mestre que há distantes dois mil
anos proclamou ser ele mesmo a Verdade que tanto buscamos.
Será que são recebidas como
presunçosas suas palavras – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida...”? O fato é
que as pessoas simples que desde o início têm ouvido a voz do Filho do
Carpinteiro são vistas com reservas pelos homens “sábios e prudentes” do mundo,
ainda semelhantes àqueles referidos por Jesus no Evangelho e sobre os quais deu
graças ao Pai por revelar essas verdades aos pequeninos em vez de àqueloutros.
Percebe-se assim que a verdade é de
fácil compreensão quando aceita com simplicidade, na pureza dos corações, e
somente dessa forma é que ela será conhecida. A bem dizer, de acordo com o que
se pode perceber, a Verdade não está acessível ao homem a não ser que este já
esteja em condições de recepcioná-la, de modo que a Verdade é apenas revelada
mediante o amadurecimento intelecto-moral das criaturas sencientes.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Espírito de Verdade – o
próprio Jesus – diz-nos que “todas as verdades se encontram no Cristianismo”,
avisando-nos, porém, que no corpo dessa doutrina há erros “de origem humana”,
sendo portanto dever nosso separar o joio do trigo, a fim de bebermos a linfa
pura dos ensinamentos do Cristo.
Por tais razões, haveremos de convir
que a Verdade não pode ser ensinada, apenas buscada, sendo revelada unicamente
aos homens que tenham desenvolvido “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. O que se
ensina, e isto o Cristo fez excelentemente, é o modo como se deve buscar a
Verdade, ainda conforme a recomendação do Mestre: “Aprendei de Mim que sou
brando e humilde de coração”. Eis aí, pois, os pré-requisitos que nos permitem
alcançar o conhecimento da Verdade.
Desse modo se compreende por que
motivo Jesus se calara ante a interrogação de Pilatos sobre o que seria a
Verdade. O governador romano da Palestina não possuía os qualificativos morais
para compreender a dimensão espiritual da verdade do Cristo – Ele mesmo! E
quanto a nós? Também será necessário despojarmo-nos de toda vaidade, das
ilusões do mundo, a fim de nos fazermos merecedores desse conhecimento, além do
que já nos é permitido saber.
Em seu livro Buscando a Verdade, o Espírito Irmão Jerônimo, mentor do C. E.
Deus, Luz e Verdade, indica várias etapas dessa busca, mostrando com isso que o
alcance da Verdade é algo simples mas dispensa atitudes simplistas. Assim, o
Mentor aponta para a busca concomitante de atributos como a paz, a confiança, o
equilíbrio, a disciplina e diversos outros fatores que predisporão o buscador à
necessária aptidão para a recepção da Verdade que lhe será então naturalmente
revelada.
Vale dizer que essas diversas buscas
indicadas por Irmão Jerônimo tratam unicamente dos esforços que o buscador deve
fazer para o desenvolvimento das virtudes, prosseguindo no caminho do
conhecimento da Verdade, para que ele viva com plenitude, despojado dos vícios
e da tendência aos erros, porquanto Jesus afirmou que em conhecendo a Verdade
esta nos libertará de nós mesmos, ou seja, do que trazemos de inferior na
alma...
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