Em busca da Verdade

Francisco Muniz




Um certo “koan” zen-budista narra que determinado homem, disposto a alcançar a iluminação de si mesmo, retirara-se para o alto de uma montanha e ali se dispunha a meditar, longe de tudo e de todos. O tempo foi passando e uma certa fama foi se formando e crescendo em redor desse homem. Um dia, alguém resolveu também atingir a iluminação e subiu aquela montanha desejoso de aprender com aquele homem que a fama tornara sábio.  Chegando lá, esse alguém encontrou o eremita sentado na posição de lótus, meditando de olhos fechados. Assim, sentou-se em frente a ele e aguardou que o sábio despertasse. Quando isto enfim aconteceu, o eremita pôs-se a fixar seus olhos no recém-chegado, sem nada dizer. O outro, igualmente, manteve-se em silêncio durante algum tempo até que manifestou o cansaço da impaciência e questionou:
- Então, quando é que você vai começar a me ensinar?
O eremita, nesse momento, abriu a boca e declarou:
- Eu pensei que você tivesse vindo me ensinar!



E
ssa historinha é bem representativa da dificuldade que o homem encontra em sua busca pelo conhecimento da Verdade, sendo a verdade aquilo que nos esclarece acerca de nós mesmos – daí a necessidade de se atingir a iluminação -, mostrando nossa natureza mais intrínseca, nossas origens, nossa destinação, a razão das circunstâncias felizes ou perturbadoras que enfrentamos, bem como os meios de superarmos os obstáculos, garantindo nossa perfeita felicidade, se possível vencendo o que se nos apresenta como o maior dos percalços, porquanto inevitável: a morte.
É certo que durante muito tempo essas questões tiraram e ainda tiram o sono de muita gente, e a despeito dos esforços dos filósofos, dos profetas da Antiguidade, dos gurus do Oriente e dos homens sábios de todas as cultura – muitas delas já sepultadas -, quase ninguém, isto é, bem pouca gente, na vasta floresta humana, se dispõe a mergulhar fundo nas orientações de um certo Mestre que há distantes dois mil anos proclamou ser ele mesmo a Verdade que tanto buscamos.
Será que são recebidas como presunçosas suas palavras – “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida...”? O fato é que as pessoas simples que desde o início têm ouvido a voz do Filho do Carpinteiro são vistas com reservas pelos homens “sábios e prudentes” do mundo, ainda semelhantes àqueles referidos por Jesus no Evangelho e sobre os quais deu graças ao Pai por revelar essas verdades aos pequeninos em vez de àqueloutros.
Percebe-se assim que a verdade é de fácil compreensão quando aceita com simplicidade, na pureza dos corações, e somente dessa forma é que ela será conhecida. A bem dizer, de acordo com o que se pode perceber, a Verdade não está acessível ao homem a não ser que este já esteja em condições de recepcioná-la, de modo que a Verdade é apenas revelada mediante o amadurecimento intelecto-moral das criaturas sencientes.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, o Espírito de Verdade – o próprio Jesus – diz-nos que “todas as verdades se encontram no Cristianismo”, avisando-nos, porém, que no corpo dessa doutrina há erros “de origem humana”, sendo portanto dever nosso separar o joio do trigo, a fim de bebermos a linfa pura dos ensinamentos do Cristo.
Por tais razões, haveremos de convir que a Verdade não pode ser ensinada, apenas buscada, sendo revelada unicamente aos homens que tenham desenvolvido “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. O que se ensina, e isto o Cristo fez excelentemente, é o modo como se deve buscar a Verdade, ainda conforme a recomendação do Mestre: “Aprendei de Mim que sou brando e humilde de coração”. Eis aí, pois, os pré-requisitos que nos permitem alcançar o conhecimento da Verdade.
Desse modo se compreende por que motivo Jesus se calara ante a interrogação de Pilatos sobre o que seria a Verdade. O governador romano da Palestina não possuía os qualificativos morais para compreender a dimensão espiritual da verdade do Cristo – Ele mesmo! E quanto a nós? Também será necessário despojarmo-nos de toda vaidade, das ilusões do mundo, a fim de nos fazermos merecedores desse conhecimento, além do que já nos é permitido saber.
Em seu livro Buscando a Verdade, o Espírito Irmão Jerônimo, mentor do C. E. Deus, Luz e Verdade, indica várias etapas dessa busca, mostrando com isso que o alcance da Verdade é algo simples mas dispensa atitudes simplistas. Assim, o Mentor aponta para a busca concomitante de atributos como a paz, a confiança, o equilíbrio, a disciplina e diversos outros fatores que predisporão o buscador à necessária aptidão para a recepção da Verdade que lhe será então naturalmente revelada.
Vale dizer que essas diversas buscas indicadas por Irmão Jerônimo tratam unicamente dos esforços que o buscador deve fazer para o desenvolvimento das virtudes, prosseguindo no caminho do conhecimento da Verdade, para que ele viva com plenitude, despojado dos vícios e da tendência aos erros, porquanto Jesus afirmou que em conhecendo a Verdade esta nos libertará de nós mesmos, ou seja, do que trazemos de inferior na alma...

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