(comentário ao livro “Poemas
ecológicos”, ainda inédito, de João Fernando Gouveia)
Francisco
Muniz
Talvez,
somente os iletrados não saibam do poder penetrante da poesia, de sua
capacidade inclusive de promover transformações sociais, numa revolução
silenciosa que acomete povos, culturas e nações Humanidade a fora. Um belo
exemplo do que falamos é o Sermão do Monte, obra prima da poética celestial
pronunciada pelo Cristo, que a escreveu nos ventos que ainda sopram sobre nós,
cativando-nos pelo poder do Amor.
A poesia –
e aqui falamos tão somente da arte poética, e não de seus produtos de
manifestação, os poemas, embora não tenhamos nenhuma autoridade para tanto – é
meio de comunicar ideias sentimentais, tanto quanto a música, que talvez seja a
forma de poesia mais sublime de que o homem seja capaz para aproximar-se da
dimensão divina.
Nesse
sentido, João Gouveia sabe muito bem como arranjar as palavras, os versos e as
imagens de sua mente esclarecida e de seu coração sensível para nos transportar
às paragens de mundos diáfanos só percebidos ou pela imaginação ou pela
transcendência, quando a alma eleva-se do chão do planeta e alcança os
alicerces do próprio Céu...
No
entanto, a deste livro é uma poesia diferente, pois tem o condão de nos
transportar daqui para... aqui mesmo! Dizemos melhor: João, com seu sábio
dizer, coloca-nos ao rés do chão do planeta e, deste cantinho do Brasil,
redescobre o país pela cartografia das imagens, fazendo a costura esmiuçada do
caleidoscópio das paisagens e, numa toalha estendida sobre a maciez da relva,
executa seu primoroso bordado, sob a luz tênue do alvorecer...
Poesia é
arte divina e quem souber descortinar-lhe os mistérios trará para mais perto do
chão a harmonia sideral, fazendo os anjos coabitarem com os homens. Talvez
pareça fácil juntar palavras aleatória ou planejadamente e assim compor um
poema; mas só os poetas verdadeiramente imbuídos desse dom poderão extrair som
e cor de palavras despretensiosas e envolvê-las num clima tal que de simples
versos ressaltam outros mundos e o que era aparentemente conhecido ganha novos
tons, velhos conceitos se redefinem e eis o encanto!
Aqui vemos
um João amadurecido em seu amor pela dama Poesia (sim, as Musas o acompanham
desde sempre!) e com ela pisando um chão tão seu conhecido sem precisar de
mapas, pois é ele quem os faz para o viajante leitor. O amor pela Vida, pela
Natureza, pela Mãe Terra é a bússola cuja agulha imantada atrairá mentes e
corações para as verdades que João aponta em seu bordado: o planeta e sua
beleza, sua alegria e sua capacidade de doação se esgotam, exigindo dos homens,
seus inquilinos, um esforço consciente de renovação em prol de uma convivência
mais responsável, para que a Poesia consiga se manter um pouco mais por aqui,
sustentada pelo amor de todos, plantas, pedras, bichos, gente...
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