Campos mórficos e o mundo espiritual

João da Silva Carvalho Neto
(publicado originalmente na revista Visão Espírita n. 18 - Ano 2 - 1999)

Desde a segunda metade do século XIX, com o advendo do Espiritismo e das pesquisas da metapsíquica, da parapsicologia, da psicotrônica, que a ciência acadêmica, dita oficial, vem buscando refutar a tese da existência do "mundo espiritual" e de suas possíveis relações com o "mundo material". Quase sempre com uma vvisão preconceituosa e pouco afim com a metodologia científica, pesquisadores empreenderam exaustivas experiências que jamais puderam referendar a proposta organicista materialista. Como o tempo caminha inexoravelmente, deixando as marcas da renovação que pressagiam novas conquistas, podemos, agora, sentir a suave brisa da verdade que se descortina perante a incredulidade humana.
Em 1926, o cientista alemão Werner Heisenberg elabora o "Princípio da Incerteza", marcando irrevogavelmente a forma de percepção do mundo, ao determinar o fim de um modelo de universo determinístico, nos moldes de Laplace. Com base nesse princípio, reformulou-se a mecânica de Newton para o surgimento da mecânica quântica, introduzindo o elemento da imprevisibilidade às experiências que descrevem o universo. Ou seja, foi observado que a medição da velocidade e da posição de partículas subatômicas em sistemas semelhantes, iniciados da mesma maneira, não apresentavam um único resultado, mas uma diversidade de resultados possíveis e incapazes de ser especificados por sistema.
Tentando-se explicar esses fenômenos, surgiu a hipótese da existência de um domínio diretor, imanente à estrutura atômica, organizando-a e dando-lhe individualidade comportamental. Esse domínio não estaria presenta apenas nas subpartículas do átomo, mas na conjunção desses átomos ao formar moléculas, células, tecidos e os organismos complexos, caracterizando-se cada um com seu domínio diretor específico e individualizado.
Na edição de fevereiro de 1999 da revista Galileu, da Editora Globo, encontramos excelente entrevista com o biólogo inglês Rupert Sheldrake, da Universidade de Cambridge, que fala de sua tese sobre os campos mórficos e a ressonância mórfica. Sheldrake, autor de vários livros, conceitua campos mórficos como "estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material". À capacidade que esses campos possuem de "distribuírem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados", chama de ressonância mórfica.
Em uma proposta que vem revolucionando o pensamento científico contemporâneo, Sheldrake justifica a distribuição das células pelo modelo organizador dos campos mórficos. Diz ele que "a maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células dentro dos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não está programada no código genético. Dadosos genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maniera, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente".
Por outro lado, a ressonância mórfica explicaria a evolução do ser humano, que se dá individual e coletivamente ao longo dos milênios. Conquistas adquiridas pelas gerações passadas vão sendo incorporadas ao patrimônio psíquico das ferações futuras, nos moldes dos arquétipos coletivos idealizados por Jung. Divagando um pouco na excitação de nossas expectativas, lembramo-nos das questões 84 e 85 de O Livro dos Espíritos:
84 - Os Espíritos constituem um mundo à parte, além daquele que vemos?
- Sim, o mundo dos Esspíritos ou das inteligências incorpóreas.
85 - Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corpóreo, é o principal na ordem das coisas?
- O mundo espírita; ele preexiste e sobrevive a tudo.
Parece que as lutas e difamações sofridas pelos pioneiros da divulgação espírita, nos tempos difíceis de perseguições políticas e religiosas, valeram a pena. No ano de 1861, o bispo de Barcelona determinou, pelo Santo Ofício, fossem queimados mais de 300 livros espíritas, usando como argumento que "a Igreja Católica é universal e, estes livros sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que sirvam a perverter a moral e a religião dos outros países".(1)
Os homens passam pela exigência da morte física, os dogmas caem sob o guante das pesquisas científicas, e as luzes do amanhã prenunciam um período de maior sabedoria. Coube ao Espiritismo descortinar esse tempo, derrubando as barreiras dos preconceitos religiosos e científicos. Cabe ainda ao Espiritismo demonstrar, com clareza, as implicações filosóficas e religiosas que as novas descobertas trarão no rumo de um futuro mais feliz para a humanidade.

(1) Moreil, André; Vida e obra de Allan Kardec, 1a. edição, Edicel, 1986, São Paulo.



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