Mediunidade e obsessão: saber viver

Francisco Muniz

Por ocasião (circa 2004) do seminário que marcou o lançamento do livro Saber Viver, de autoria do Espírito Irmão Jerônimo, mentor do C. E. Deus, Luz e Verdade, no qual militamos, e da médium Bernadete de Oliveira Santana, imaginamos o seguinte diálogo com o Mentor e Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, numa entrevista que teve a participação também dos Espíritos Emmanuel, André Luiz e Joanna de Ângelis. Essa entrevista  foi publicada no jornalzinho Mediunato, utilizado naquela Casa Espírita nas atividades do Aprimoramento Mediúnico, realizado duas vezes por mês. Como o seminário abordaria - como abordou - questões aprofundadas em torno da mediunidade e da obsessão, cremos proveitoso considerar alguns aspectos relacionados a esses temas a partir das recomendações desses importantes vultos do Espiritismo, que muito contribuem para nossos estudos, com vista ao aperfeiçoamento moral de todo trabalhador do Cristo na seara espírita.

Mediunato - Meu caríssimo Allan Kardec, que, para o homem, a mediunidade?
Allan Kardec - Para conhecer as coisas do mundo visível e descobrir os segredos da natureza material, outorgou Deus ao homem a vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais. Com o telescópio, ele mergulha o olhar nas profundezas do espaço e, com o microscópio, descobriu o mundo dos infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a mediunidade.

M - Nobre Emmanuel, você, que tantas lições nos deu através de nosso querido Chico Xavier, que definição nos dá quanto à mediunidade?
Emmanuel - A mediunidade é aquela luz que seria derramada sobre toda carne e prometida pelo Divino Mestre aos tempos do Consolador, atualmente em curso na Terra. Sendo luz que brilha na carne, a mediunidade é atributo do Espírito, patrimônio da alma imortal, elemento renovador da posição moral da criatura terrena, enriquecendo todos os seus valores no capítulo da virtude e da inteligência, sempre que se encontre ligada aos princípios evangélicos na sua trajetória pela face do mundo.

M - Muito obrigado, Emmanuel. Mas gostaríamos de saber, então, qual é a maior necessidade do médium.
E - A primeira necessidade do médium é evangelizar-se a si mesmo antes de se entregar às grandes tarefas doutrinárias, pois, de outro modo, poderá esbarrar sempre com o fantasma do personalismo, em detrimento de sua missão.

M - Podemos, Irmão Jerônimo, ouvir o digno mentor do CEDLV sobre os percalços que o médium pode encontrar na conquista de méritos?
Irmão Jerônimo - O mérito não é patrimônio e sim esforço de cada caminheiro da vida em busca da elevação. A oportunidade e a sabedoria são para todos. Saibamos aproveitar a programação de vida que nos foi confiada, exercitando o bem a cada instante no trabalho edificante para a própria ascensão. Nesse sentido, é importante refrear as emoções, porque elas são prejudiciais ao desenvolvimento espiritual. Criando a confiança em Deus e em nós mesmos, nada teremos a temer.

M - E a venerável Joanna de Ângelis, que pode nos dizer no sentido de exercitarmos a mediundiade da maneira mais proveitosa para nós mesmos?
Joanna de Ângelis - A mediunidade, para ser dignificada, necessita das luzes da consciência enobrecida. Quanto maior o discernimento da consciência, tanto mais amplas serão as possibilidades do intercâmbio mediúnico.

M - Algum de vocês quer, ao encerrarmos estes tópicos sobre a mediunidade, dizer algumas palavras de estímulo aos trabalhadores do CEDLV?
Emmanuel - Sim. A missão mediúnica, se tem os seus percalços e as suas lutas dolorosas, é uma das mais belas oportunidades de progresso e de redenção concedidas por Deus aos seus filhos misérrimos.

M - Kardec, dentre os empecilhos que os médiuns enfrentam na educação de suas faculdades psíquicas, como considerar a obsessão?
Kardec - No número de escolhos que apresenta a prática do Espiritismo, é preciso colocar, em primeira linha, a obsessão, quer dizer, o império que alguns Espíritos sabem tomar sobre certas pessoas. Ela não ocorre senão pelos Espíritos inferiores que procuram dominar; os bons Espíritos não impõem nenhum constrangimento; eles aconselham, combatem a influência dos maus, e se não os escutam se retiram. Os maus, ao contrário, se agarram àqueles sobre os quais fazem suas presas; se chegam a imperar sobre alguém, se identificam com seu próprio Espírito e o conduzem como uma verdadeira criança.

M - Você, Emmanuel, naturalmente concorda com o Codificador, não é?
Emmanuel - A obsessão é sempre uma prova, nunca um acontecimento eventual. No seu exame, contudo, precisamos considerar os méritos da vítima e a dispensa da misericórdia divina a todos os que sofrem.

M - No prefácio do livro Desobsessão, de nosso caro André Luiz, através da mediunidade do saudoso Chico Xavier e de Waldo Vieira, você diz que o obsessor é principalmente um Espírito enfermo. Entendendo assim, podemos nos ajudar melhor, não?
E - Nada mais oportuno e mais justo, de vez que, se a ignorância reclama o devotamento de professores na escola e a psicopatologia espera pela abnegação dos médicos que usam a palavra equilibrante nos gabinetes de análise psicológica, a alienação mental dos Espíritos desencarnados exige o concurso fraterno de corações amigos com bastante entendimento e bastante amor para auxiliar nos templos espíritas, atualmente dedicados à recuperação do Cristianismo, em sua feição clara e simples.

M - Diga-nos, Irmão Jerônimo: por que os médiuns, que se dedicam ao serviço do Cristo, são tão visados pelos obsessores? Por que nossos mentores deixam que isso aconteça?
Irmão Jerônimo - Quando os bons Espíritos permitem seja um médium enganado, é para que ele aprenda a discernir o verdadeiro do falso, compreendendo que nenhum médium é tão perfeito que não possa ser atacado. O importante é ter confiança absoluta em Deus e não tomar por mal a crítica construtiva. Agir assim é característica dos médiuns vaidosos e orgulhosos, que se aborrecem com a menor observação feita em seu próprio benefício, chegando a alimentar ódio contra a pessoa que o alertou.

M - Como pode o médium se precaver dessas influenciações nefastas?
IJ - Como vemos, as causas do fracasso residem dentro do próprio médium. É necessário a vigilância, não deixando que efeitos maléficos se produzam. É preciso rogar a Deus em constante oração.

M - André Luiz, na qualidade de estudioso, na Espiritualidade, dos tema que aqui tratamos, você pode nos orientar quanto à importância dos trabalhos de desobsessão nas casas espíritas?
André Luiz - Nenhuma instituição do Espiritismo pode, a rigor, desinteressar-se desse trabalho imprescindível à higiene, harmonia, amparo ou restauração da mente humana, traçando esclarecimento justo, seja aos desencarnados sofredores, seja aos encarnados desprovidos de educação íntima que lhes sofram a atuação deprimente, conquanto, às vezes, involuntária. Cada templo espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores da desobsessão, quando não seja destinada a socorrer as vítimas da desorientação espiritual que lhe rondam as portas, para defesa e conservação de si mesma.

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Referências

Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo - Desobsessão, pelo Espírito André Luiz, FEB.
Xavier, Francisco Cândido - O Consolador, pelo Espírito Emmanuel, FEB.
Santana, Bernadete de Oliveira - Aprimoramento Mediúnico, pelo Espírito Irmão Jerônimo.
Projeto Manoel Philomeno de Miranda - Consciência e Mediunidade, LEAL.
Kardec, Allan - O Livro dos Médiuns, FEB.

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