Cura de um leproso

Francisco Muniz

O leproso, ao encontrar Jesus, coloca ao mestre uma condição para o ato de cura: “se queres”. Ora, Jesus, o amor incondicional, como enviado de Deus, o Pai, aos homens, é também o divino despenseiro e, como tal, jamais nega ou se submete a condições, de modo que à colocação do leproso só há uma alternativa e Ele diz “Eu quero”. Nem mesmo à mulher cananeia (siro-fenícia), à qual o Cristo diz não ficar bem tirar dos filhos para dar aos cachorrinhos, nem aí há uma recusa, pois, provando a mulher pela insistência (perseverança), Jesus finalmente atende seu pedido, para alívio dos incomodados discípulos.
A cura do leproso mostra que Jesus se alegra ensinando que é preciso dar sempre, incondicionalmente, Ao leproso, como a muitos a quem Ele curou, faz, no entanto, algumas recomendações: “Não digas nada a ninguém” é a primeira, antecedida pelo aviso de “cuidado”. Por que razão? Há várias. Àquela época, um pouco como hoje ainda, os leprosos eram verdadeiros párias, em função da natureza da doença, que causava repulsa por seu aspecto degenerativo. Um leproso, portanto, era um ser para sempre marcado e, para não constranger os demais com sua presença, era banido das cidades e tinha que viver com seus iguais nos “vales de leprosos”. Assim, ninguém se comoveria com o ressurgimento de um leproso “limpo”, pois o preconceito já o teria condenado ao esquecimento.
Outra razão é que o ato de cura é íntimo, particular, e só interessa ao próprio enfermo, em essência. No caso de um leproso isso era, à época, mais verdadeiro ainda, pelos argumentos acima. Por isso, Jesus lhe pede que, ao contrário de propagar sua cura, o leproso curado “vá se mostrar aos sacerdotes”. Ou seja, que agradeça primeiramente a Deus, sob cujo poder a cura foi ministrada. Ora, eram os sacerdotes, segundo o entendimento dos judeus, os representantes de Deus na Terra e por isso somente através deles Deus receberia os pedidos e agradecimento dos homens.

Ademais, com tal pedido o Cristo sinaliza para outro aspecto da cura. Não é Ele o agente do processo, mas o próprio necessitado, que se cura pela ação da própria fé. “A tua fé te curou”, disse o Mestre outras vezes, de modo que, sendo a fé um sentimento do indivíduo, somente a ele mesmo interessa saber de sua cura e mantê-la.

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