A arte de apontar rumos

Francisco Muniz

Um dos objetivos da doutrinação de espíritos é apontar rumos às entidades comunicantes, grande parte delas ainda perdidas quanto ao que lhes aconteceu, pois não reconhecem estar numa outra dimensão além da dos chamados “vivos”, e necessitam de orientação quanto aos passos que deverão dar a partir da informação de que são espíritos imortais com a incumbência de colaborarem com o próprio progresso, submetendo-se aos desígnios divinos. Eis aí a beleza da tarefa dos esclarecedores, os médiuns chamados “doutrinadores” que têm a função de dialogar com essas entidades certos de que são os instrumentos de que o Alto se serve para socorrer mais eficazmente a quem se encontra como clandestinos no mundo espiritual, porquanto não sabem – ou se recusam a aceitar – que foram visitados pela morte do corpo material.
Na qualidade de instrumento, o médium doutrinador, ou esclarecedor, como prefere o Espírito André Luiz, deve entender que, dele mesmo, somente sua vontade de cooperar na tarefa e seu organismo oferece no momento do atendimento na Sala Mediúnica, porquanto tudo o mais é realizado pela Equipe Espiritual condutora dos trabalhos. Importa, por isso, sermos os melhores coadjuvantes junto aos abnegados Instrutores do Espaço, conscientizando-nos quanto ao bom procedimento, nos três campos em que somos exigidos disciplinarmente: o mental, o emocional e o comportamental. Nessas três esferas – que remetem ao trinômio estabelecido pelo Espírito Emmanuel ao convidar o médium Francisco (Chico) Cândido Xavier para uma atuação conjunta (das mais profícuas de que tenhamos notícia) – o exercício da meditação ganham significativa importância, para o despertamento do médium.
Através da meditação, que em nosso caso significará tão somente a reflexão constante e cada vez mais aprofundada acerca da natureza do trabalho mediúnico e de nossa participação nele, compreenderemos a necessidade de policiarmos os pensamentos, equilibrarmos o quanto possível as emoções e desenvolvermos atitudes pautadas impreterivelmente pelas lições do Evangelho. Uma mente em desalinho não dará, facilmente, espaço para a recepção das orientações espirituais direcionadas às entidades sofredoras, assim como médiuns com as emoções em desequilíbrio necessitará bem mais de cuidados do que poderão auxiliar a alguém; também é fato que os abusos negligentes quanto ao vestuário e à ingestão de alimentos, bebidas ou substâncias outras, configurando viciações, comprometem a tarefa e a própria condição do medianeiro. Assim sendo, como esse médium poderá apontar rumos dignificantes e fazer-se acreditar pelos irmãos infelizes senão dá a si próprio esse benefício?
Não desconhecemos que o dinamismo da prática da caridade revela que o que fazemos aos outros fazemos a nós mesmos e que os espíritos comunicantes, nesse sentido, vêm-nos abrir os olhos para nossa própria condição ao revelarem seus dramas, como a dizer-nos: “enquanto eu estava aí, agi como quis e agora estou sofrendo bem mais!” Já descobrimos, também, que não fazemos caridade a não ser a nós mesmos na intimidade da Sala Mediúnica. Essa caridade será tanto maior quanto nos disponhamos a exercitar os “ouvidos de ouvir” referenciados por Jesus, com vistas a, aprendendo a lição vinda do “outro lado” da vida, melhor correspondermos aos esforços da Espiritualidade.
A doutrinação, portanto, é uma arte a exigir empenho de cada um de nós, médiuns conscientes que pretendemos ser, e nesse aspecto também os psicofônicos são convidados à especialização, através do imprescindível estudo, dos exercícios de meditação e das práticas caritativas nas duas vertentes (moral e material), como forma de desenvolvermos a sensibilidade para com a dor do outro, afeiçoando-nos ao trabalho com o Cristo. Sim, o trabalho não é nosso. Como na parábola do Festim das Bodas, somos apenas os convidados de última hora para o banquete espiritual; contudo, para sermos dignos de ali nos encontrarmos, devemos estar usando a túnica nupcial, representada pelos pensamentos enobrecidos, pelos sentimentos marcados pelo espírito de fraternidade e pelas atitudes sóbrias quanto às coisas do mundo...

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