Quevedo?

Francisco Muniz
(compilação de matéria publicada originalmente na revista Visão Espírita n.° 10 - Ano 2 - Março.2000)

O padre jesuíta Oscar González-Quevedo, contumaz contraditor do Espiritismo, ocupava, em março de 2000, o lugar do mágico "Mister M" no programa Fantástico, da Rede Globo, como atração quinzenal nas noites de domingo. Enquanto o mágico mascarado revelava os segredos por trás dos truques de mágica, dos mais simples aos mais complicados, Pe. Quevedo tratava de "desvendar", conforma acredita, os mistérios da paranormalidade, dando-se a autoridade de parapsicólogo que apenas reduz todos os fenômenos mediúnicos à ação do inconsciente, seja individual, seja coletivo. Até 1983, Quevedo dirigia o Centro Latino-Americano de parapsicologia (CLAP), cujas atividades foram interrompidas por seus superiores eclesiásticos. Vejamos por que.
Acontece que o jesuíta é também pesquisador dos ditos fenômenos paranormais e tem na Bíblia sua principal fonte de estudo, graças aos quais publicou alguns livros polêmicos. Um deles foi o que causou sua punição e o consequente sumiço da mídia no início dos anos 80. No tal livro, intitulado "Antes que os demônios voltem", lançado em 1982, Quevedo chocou a cúpula da Igreja Católica ao sustentar sem rodeis, segundo revelado pela revista IstoÉ de 22 de outubro de 1986, "que todos os casos bíblicos ou pós-bíblicos de possessão demoníaca nada têm de sobrenaturais e podem ser tranquilamente explicados pela parapsicologia", Nesse aspecto, convenhamos, Quevedo está certo, mas para seus pares ele errou ao negar um dos dogmas impostos pelo Vaticano, que é a crença na "existência" e nos "poderes" de demônios. Então, assim como aconteceu também ao ex-frade franciscano Leonardo Boff, o jesuíta Quevedo foi condenado temporariamente ao silêncio.
Por determinação de seu superior regional, o padre João Augusto Mac Dowell, ele foi mproibido de exercer a atividade de parapsicólogo (razão pela qual suas aparições na TV Àquela época foram estranhamente suspensas), de publicar livros, dar aulas ou fazer conferências. "Não posso nem conceder entrevistas, receber telefonemas ou cartas, nada", declarava Quevedo à IstoÉ, 13 anos antes desta reportagem.
Algum tempo após essa medida, o próprio Quevedo mandou um bilhete ao pesquisador espírita Henrique Rodrigues, no qual ratava do "ponto final" (palavras do jesuíta) dado ao CLAP: "Olhando para trás, numa avaliação sincera nós acreditamos ter realizado uma tarefa realmente frutífera, embora muito inferior aos nossos ideais. Sentimo-nos satisfeitos por tantos esforços e anseios dedicados ao serviço de Deus. (...) Mas a 31 de agosto de 1984 foi fechado o CLAP (e eu também). Completamente. Confiamo-nos no juízo de Deus. Encomendamos a nossa padroeira, Virgem de Guadalupe, as pessoas que de alguma maneira poderiam precisar de nosso trabalho. E pedimos que Ela apresente a seu Filçho o holocausto do CLAP".
Como se vê, Quevedo não cita os motivos do fechamento do instituto, onde dava cursos e promovia eventos na área de parapsicologia, mostrando às pessoas, muitas delas incautas, que os fenômenos mediúnicos podiam ser comparados a simples truques de mágica. É o que demonstra, por exemplo, o advogado Guaracy Lourenço da Costa, de Araraquara (SP), que participou, em 1999, de um desses cursos ministrados por Pe. Quevedo, na Universidade de Araraquara. Em essência, nesse curso Quevedo teria apenas feito alguns truques, além de lançar petardos verbais contra o Espiritismo e Allan Kardec, sem consubstanciar seus ataques.
O citado Henrique Rodrigues, hoje desencarnado, protagonizou uma disputa com Quevedo por conta das aparições registradas no pisoi da cozinha de uma casa numa cidadezinha da Espanha, Belmez de la Moraleda, na província de Jaén. Sem ter estado na localidade, o jesuíta refutou a ocorrência do fenômeno, declarando à imprensa na época (1972) que tudo não passava de fraude. Tais declarações provocaram a indignação do professor Hans Bender, diretor do Instituto para Desenvolvimento da Psicologia e Psico-higiene de Friburgo (Alemanha). Bender transmitiu por carta a Henrique Rodrigues sua opinião de que os rostos de Belmez eram de origem paranormal, dizendo não compreender "como o padre Oscar González-Quevedo pode permitir-se um juízo quando jamais esteve em Belmez".
Seria isto o bastante para o leitor configurar o perfil dessa estranha personagem. Quando Henrique Rodrigues publicou seu testemunho - nas páginas da Visão Espírita - sobre "as caras de Belmez de la Moraleda", ele citava o fato de o padre Quevedo estrar desaparecido para os debates com os espíritas e convidava o religioso católico a voltar às pugnas ideológicas. "Volte, padre Quevedo, agrida, porque na defesa vamos ficar mais fortes", bradava Rodrigues em seu artigo.
Bem, Quevedo está de volta e tomara que a Rede Globo tenha o bom senso de permitir mais debates entre seu "astro" e pesquisadores espíritas, como já deu mostras ao convidar o baiano Clóvis Nunes, especialista em transcomunicação instrumental (TCI).

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