Milton Gaúcho - a serviço do teatro espírita

Francisco Muniz
(publicado originalmente na revista Visão Espírita n. 14 - Ano II - 1999)

O teatro espírita que se faz na Bahia deve muito a Milton Gaúcho, como deve a Maria Schüler, Jorge Lyrio e ouros expoentes dessa arte a serviço da divulgação do Espiritismo. Milton Gaúcho, hoje aos 83 anos (completados em outubro daquele ano de 1999), entretanto, é reconhecido também fora dos palcos espíritas, posto que, como ator, teve presença marcante nas grandes produções teatrais e cinematográficas realizadas na Bahia, com destaque para o filme O Pagador de Promessas, que conquistou a Palma de Ouro no festival de Cannes, na França. Atualmente, ele empresta seu talento ao Teatro Espírita Leopoldo Machado (Telma, cujas instalações físicas estão em construção no bairro da Boa Viagem, em Salvador), do qual é diretor artístico.
Há dois anos, Milton enveredou também pela literatura e publicou o livro Miltônias, uma obra de peso que, através de várias crônicas, procura desmistificar diversos aspectos observados na Igreja Católica, do ponto e vista da Doutrina Espírita. Segundo o autor, esse livro deu-lhe uma "grande honra", a qual é a de estar inscrito na "galeria dos malditos" do Catolicismo. Na obra, Milton cita, por exemplo, a campanha contra o Espiritismo encetada pelo então arcebispo primaz do Brasil, D. Avelar Brandão Vilela, que chegou a enviar uma carta ao jornal O Globo, pedindo a retirada do ar de um quadro de temática espírita veiculado no programa Fantástico, da Rede Globo.
Os comentários a respeito do livro têm sido os mais entusiásticos. Carlos de Brito Imbassahy, de Niterói, ressaltou o seguinte: "O livro tem o grave defeito de estar muito bem escrito, contendo excelente material e, de forma escorreita, apresenta assuntos deveras curiosos para se analisar. (...) Por sinal, todo o livro é um acervo primoroso de citações oportunas, trazendo inúmeras informações, em linguagem pesada, de estilista emérito". Na imprensa baiana, o colunista Juarez Conrado narrou, em A Tarde: "Pena, amigos, que o velho Milton Gaúcho não se alongasse mais em suas crônicas, abordando outros interessantes assuntos, como aquela complicada história da morte de João Paulo I, o 'papa do sorriso', na qual o autor se revelou um grande pesquisador, além de grande conhecimento de muita coisa que se passa (ou já se passou, há alguns séculos) nos bastidores da Santa Sé".
Além de suas atividades artísticas, Milton Gaúcho (nascido Milton Magalhães - o "Gaúcho" foi emprestado de um futebolista de seus tempos de garoto) é espírita militante há mais de 40 anos e exerce a função de médium passista no Telma, casa dirigida pelo reconhecido escritor Carlos Bernardo Loureiro. Ali, ele vem ensaiando, atualmente, mais duas peças espíritas; uma delas é Pedras no lago, escrita por Lúcia Loureiro e encenada pela primeira vez há 15 anos. Milton se ressente da pouca atenção dos centros espíritas para com o teatro na Bahia, onde praticamente apenas o Telma e o grupo de Maria Schüler dão ênfase a essa arte, que é, na opinião do próprio Allan Kardec, Léon Denis, Emmanuel e outros, um dos melhores meios de divulgação da Doutrina Espírita. "No Sul, raras são as casas que não têm seu grupo de teatro e chegam a fazer festivais por ano", avalia.
Do alto de suas oito décadas, Milton reconhece que, agora, o Espiritismo está tendo muito melhor divulgação que no passado recente, ainda mais com o advento do programa Espiritismo via Satélite e da revista Visão Espírita. Por essa razão, ele se declara entusiasta do projeto da SEDA, idealizado por Alamar Régis. Ele também salienta o aparecimento de vários novos escritores que têm contribuído para o trabalho de evolução da Doutrina, ampliando seu raio de ação e entendimento junto às parcelas leigas da população brasileira.

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