Deus e o infinito

Francisco Muniz
(publicado originalmente na revista Visão Espírita n. 14 - Ano II - 1999)

Na última edição, citamos as três primeiras questões do primeiro capítulo de O Livro dos Espíritos, referentes ás causas primárias, à compreensão de Deus e do infinito. Ali, vemos que, pela definição dada pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec, "Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas". Com isso entendemos que tudo quanto nos cerca, tanto como nós mesmos, tudo que existe é efeito de um ato criador cuja causa é exterior e transcende nossos limitados conhecimentos. Se nada acontece fortuitamente, ao sabor do acaso, evidencia-se uma autoria para os fenômenos da existência: se, de fato, não somos nós, os homens, os criadores de situações fora do domínio de nossas capacidades, o autor, então, há de ser o ente que chamamos de Deus.
Os mentores da Doutrina Espírita também nos esclarecem, através de Kardec, que nossa pobreza de linguagem é insuficiente para definir as coisas que estão além de nossa inteligência. Os Espíritos se referem à nossa compreensão acerca do infinito, que muitos ainda confundem com o Criador. Essa é a resposta que eles dão a Kardec quando o Codificador questionou se poderíamos dizer que Deus é o infinito. No conceito dos Espíritos Superiores, o infinito é "aquilo que não tem começo nem fim: o desconhecido; todo o desconhecido é infinito". O questionamento de Kardec é cabível, desde quando mais adiante os mentores nos informariam que, diferentemente do espírito, Deus existe de todo o sempre, não tendo começo nem fim...
Daí o comentário subsequente de Allan Kardec, esclarecendo-nos que "Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração; dizer que Deus é infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa, ainda não conhecida, por outra que também não o é". De acordo com J. Herculano Pires, um dos tradutores do primeiro livro da Codificação e autor de uma esclarecedora introdução e das notas de rodapé da edição comemorativa do centenário de O Livro dos Espíritos (LAKE, 1957), quando tratam das noções do infinito, os Espíritos se referem ao universo. "Tudo quanto nele conhecemos tem começo e tem fim; tudo quanto não conhecemos se perde no infinito", diz o autor de Educação para a Morte.

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