Um, dois, três

Francisco Muniz


Desde que Pitágoras, na antiga Grécia, definiu o número 3 como o da Perfeição, as tríades, trípticos, trilogias e trindades vêm merecendo especial atenção por parte das mentes conscientes da Realidade extrafísica. O conceito pitagórico assim se estabelece, de modo místico, a partir da noção de que o número 1 corresponde a Deus, o Uno, por esta razão indivisível, bem como à dimensão espiritual; e de que o 2 representa a dualidade dicotômica da vida material, em suas expressões maniqueístas que quase sempre opõem a Criação e o Criador, que em verdade se complementam, uma sendo parte inseparável do outro. Dessa dicotomia vêm as ideias de caos e destruição, de incompletude e imperfeição, de modo que o 3 aparece como convite à Unidade, à unificação dos princípios, significando assim a Perfeição, que integra o Criador e a Criação.
Tríades são formulações do pensamento que englobam três conceitos na mesma ideia, como expressão da lógica dialética, que pressupõe um tese, sua antítese e a necessária e consequente síntese. No âmbito do pensamento espírita e espiritualista várias tríades aparecem para a reflexão do estudante desses temas, e passamos a registrar algumas delas aqui, a começar pela tríade expressa por Allan Kardec como lema da ação desenvolvida como o codificador da Doutrina Espírita: "Trabalho, solidariedade e tolerância". Por falar no Codificador, em O Livro dos Espíritos ele registra uma trindade bem diversa daquela da Teologia, explicando que são três os elementos constitutivos do Universo: Deus, Espírito e Matéria - seria esse, aliás, o verdadeiro espírito da trindade teológica?
E graças ao Codificador temos a informação de que o próprio Homem é uma entidade trina, composta pelo corpo físico, pelo corpo espiritual, que Kardec batizou de perispírito, e do espírito propriamente dito. Em sua estrutura física, o próprio corpo se divide em três partes: cabeça, tronco e membros; esotericamente, essa estrutura compreende três corpos: além do físico, material, haveria também o corpo astral e o corpo mental. Já o veículo de manifestação do Espírito no mundo material, a mente, igualmente apresenta uma divisão trina: o consciente, o inconsciente e o superconsciente...
No livro Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho, transmitido à psicografia de Francisco (Chico) Xavier, o Espírito Humberto de Campos cita o lema da missão de nosso país na obra do Cristo, explanada na tríade "Deus, Cristo e Caridade", inscrita na flâmula da comitiva de Jesus que veio observar as terras do Cruzeiro, para onde seria transplantada a árvore do Evangelho. Numa de suas epístolas, o apóstolo Paulo fala-nos das três maiores virtudes, a fé, a esperança e a caridade, afirmando que, das três, a maior é a terceira.
A benfeitora Joanna de Ângelis, Espírito mentor do médium Divaldo Pereira Franco, também cunhou uma tríade para explicar o papel da Casa Espírita no mundo, em relação a seus dirigentes, trabalhadores, frequentadores e assistidos: humanizar, espiritizar e qualificar. Em Fonte Viva, obra também psicografada pelo supracitado médium Chico Xavier, o mentor Emmanuel, falando acerca da necessidade de observarmos nossas mãos e conduzi-las para o trabalho útil, radiografa num terceto a utilidade de certos órgãos corporais: "O coração inspira. O cérebro pensa. As mãos realizam."
Os Espíritos Superiores nos ensinam os três modos pelos quais realizamos a tarefa do aprendizado com vistas ao progresso espiritual: 1 - pela reflexão, o mais fácil e, contraditoriamente, o menos utilizado; 2 - pela imitação, também pouco observada; e 3 - pela experiência, o mais doloroso e curiosamente o preferido pela maioria dos homens. Também são três os objetos de nossas relações: nós mesmos, o outro e Deus. Esse relacionamento, conforme nos inspirou um Amigo Espiritual, se expressa desta forma: conosco mesmos - com compaixão, pois nos vitimizamos, afundando no complexo de culpa, desenvolvendo a autopiedade; com o outro - com paixão, manifestando atitudes derivadas do orgulho e egoísmo que nos marcam: o ódio, o ciúme, a inveja e a ambição; com Deus - sem paixão, o que nos leva muitas vezes a duvidar da existência do Criador.
Mas como deveríamos estabelecer essas relações? Da seguinte maneira: conosco mesmos - sem paixão, isentando-nos das emoções desagregadoras que comprometem nosso trabalho de reeducação espiritual; com Deus - com paixão, manifestando o sincero entusiasmo perante o Pai Supremo, sempre justo e misericordioso para conosco; e com o outro - com compaixão, sendo para o próximo o que o próprio Deus é para nós, isto é, fazendo ao outro todo o bem possível, aceitando-o como está, sabedores de que ele, tanto quanto nós, está em processo de transformação e para tanto necessita, assim como nós mesmos, das manifestações de solidariedade, respeito e compreensão.

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