Música e religião


Na manhã deste domingo, saindo para cumprir mais uma tarefa de exposição da mensagem espírita, observo pessoas que, como eu mesmo, também se dirigem ao compromisso religioso, seja nos templos católicos, seja nos protestantes, e me recordo da Feira de Santana de minha infância. Na rua onde minha família morava, no bairro do Ponto Central, havia uma igreja batista que mantinha, acima do púlpito, uma grande banheira de vidro para a realização das cerimônias de batismo, coisa que nós, crianças, gostávamos de observar, do lado de fora da porta de entrada. Mas o que mais me agradava era a música tocada no alto falante, para toda a rua ouvir: "Desperta, Brasil, Braaaasiiiil! / Está na hora de orar / que Jesus vai libertar / todo aquele que nele creeeeê". Toda semana eu ansiava ouvir esse hino... 
Antes de irmos morar nessa rua, habitamos uma casa num bairro mais distante dali e, impossibilitados de continuar na mesma Escola Agostinho Fróes da Mota, fomos, meus irmãos e eu, matriculados na escolinha mantida por uma outra igreja batista, esta já próxima da antiga estação de trem. Um dia, essa escola - cujo nome homenageava a autora do hino de Feira, Profa. Georgina Erismann -, melhor dizendo, a igreja realizou uma festividade num domingo e os alunos foram convidados a participar. Foi nessa ocasião que ouvi a filhinha do pastor, também diretor da escola, cantar o hino mais bonito que já ouvi, talvez por causa da voz infantil, que entoava assim: "Três palavrinhas só / eu aprendi de cor / Deus é amor! / Oh, que maravilhas Deus criou!".
Depois disso, já no Ponto Central, Mãinha nos matriculou nas aulas de catecismo de Irmã Freitas, uma freira bastante conceituada na cidade que eu pensava, por causa do sobrenome, ser parente de nossa família. Mas não me lembro de aí termos, alguma vez, sido apresentados à musicalidade tão própria da Igreja Católica. O fato é que não tínhamos qualquer vocação para seguir o Cristo por esse caminho e o certo é que íamos à casa de Irmã Freitas para observar as meninas, e Mãinha talvez tivesse se contentado em não lhe darmos despesa na improvável festa da tal primeira comunhão... Muitos anos depois, agora convertido à Doutrina dos Espíritos, ingressei numa casa espírita numa época em que os cânticos ainda faziam parte das atividades doutrinárias, motivo mais que suficiente para desenvolver a paixão de apreciador da boa música...

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