Remédios falsos

Francisco Muniz
(publicado originalmente na revista Visão Espírita n.° 5 - Ano I - Agosto.1998)

A ânsia de ganhar dinheiro fácil faz a mente criminosa arquitetar os planos mais maquiavélicos, até mesmo eliminando vidas preciosas para satisfazer seus propósitos...

Se não fosse a tentativa de algumas mulheres em não quererem mais engravidar, talvez a sociedade brasileira ainda estivesse sem saber da proliferação de remédios falsificados sendo comercializados em farmácias e drogarias principalmente do Sudeste do País. Com a apuração das primeiras denúncias, novas descobertas de fraudes cometidas por laboratórios grandes e pequenos, muitos deles clandestinos, vieram à tona, por conta da investigação da imprensa e das autoridades sanitárias e policiais. Para estupefação do cidadão comum, viu-se que até mesmo simples analgésicos sem o necessário princípio ativo (inócuos, portanto) estavam - ou ainda estão - sendo vendidos a incautos e desprotegidos consumidores.
O mais grave é que somente após as denúncias é que muita gente está se dando conta de que seus entes queridos morreram em decorrência da ingestão desses medicamentos falsos, uma vez que não faziam efeito algum no organismo afetado por doenças várias. Tal foi o caso, por exemplo, de um homem de tratava um câncer de próstata e, ao saber que tomava remédio falso, perdeu as esperanças de obter a cura. Sua filha, indignada, decidiu processar o laboratório fabricante do medicamento, medica que também estão adotando algumas das mulheres que engravidaram contra a vontade, pois tomavam certo anticoncepcional que acreditavam eficiente.
Não menos grave também é o fato de que grande parte desses medicamentos falsificados é distribuída gratuitamente na própria rede oficial de serviços de saúde, entre centenas de pacientes que não têm recursos suficientes para comprá-los em farmácias. Nesse aspecto, inclusive portadores de Aids se descobriram ingerindo remédios falsos, comprometendo o esperado restabelecimento orgânico. No mínimo, a situação faz pensar numa grande e bem articulada quadrilha de falsários preocupada em obter ganhos fabulosos (o preço dos remédios é sempre elevado, no Brasil!), sem qualquer escrúpulo em sacrificar vidas humanas.
Apesar das investigações policiais e do esforço do governo nesse sentido, o fato é que nenhum responsável pelo problema foi indiciado. O fechamento provisório do laboratório de onde saíram os anticoncepcionais ditos "de farinha" foi mais uma medida administrativa que jurídica, tanto que foi autorizado, dias depois, a voltar a fabricar medicamentos sem similar no mercado.

Endividamento cármico

O ambiente espiritual do planeta é duplamente o de uma escola e o de um hospital, segundo se depreende da simples observação e da leitura dos relatos de autores espirituais como André Luiz, por exemplo, através da mediunidade de Chico Xavier. Os espíritos que reencarnam na Terra, ainda inferiores, como devedores ante as leis divinas, trazem necessidades reeducativas que não raro se traduzem em conturbações orgânicas, afetando a saúde do corpo físico.
Assim sendo, muitos precisam se valer de remédios que, no fundo, são o ponto de focalização da fé que verdadeiramente cura. Entretanto, no atual estágio evolutivo do planeta os doentes ainda precisam do remédio material como coadjuvantes do tratamento de muitos males cuja origem está mesmo na roupagem espiritual, ou perispírito.
Além de um grande hospital, o mundo também é uma escola de reajustamento, onde os espíritos/alunos devem aprender a conviver uns com os outros pautados principalmente pela noção de fraternidade. Nem todos caminham por essa trilha, porém, preferindo ignorar os impositivos conscienciais e continuar na senda criminosa, entregando-se às aventuras do egoísmo.
Desse modo, se pessoas se valem da inteligência para perpetrar crimes contra a vida de seus semelhantes, envenenando-os e até precipitando-lhes a desencarnação, a princípio estão seguramente contraindo débitos pesadíssimos. Contudo, como espíritos responsáveis, isto é, capazes de responder por todos os seus atos, terão de, mais cedo ou mais tarde, enfrentar o tribunal da própria consciência e se render aos imperativos da Lei maior, dos quais ninguém se furtará.


Lições que ficam

É possível que nem todos os leitores tenham ouvido falar de placebos. Segundo a definição dos dicionários, placebo é o "medicamento inerte ministrado com fins sugestivos ou morais, ou, ainda, em trabalhos de pesquisa, quando é dado a um grupo de pacientes que ignoram estar, paralelamente, tomando o remédio que se quer investigar". Nos testes das vacinas contra câncer e Aids eles vêm sendo largamente utilizados. Raciocinando-se por aí, as mulheres que engravidaram enquanto tomavam  a pílula de farinha de certa formam ingeriam placebos, posto que ignoravam sua ineficácia.
Admiravelmente, pelo que se tem notícia, nenhuma delas se revoltou ante a situação, aceitando a chegada de mais um filho que de certa forma agravaria a condição social da família, em vista do desemprego ou dos parcos rendimentos dos pais. Essa talvez tenha sido uma das principais lições em todo o drama gerado pela falsificação de remédios. Talvez tenha sido, também, mais uma forma engendrada pela Espiritualidade para garantir a reencarnação de espíritos necessitados de resgatar antigos débitos e, quem sabe, até mesmo propiciar o equilíbrio familiar, com promessas de dias mais felizes.
Outra lição diz respeito à automedicação. É costume do brasileiro em geral consumir remédios por conta própria, seja porque o acesso aos serviços médicos gratuitos impõe uma grande dose de paciência (daí os doentes serem chamados de "pacientes"), seja pelo custo das consultas particulares, pelo medo de ir ao médico e descobrir-se portador de uma doença mais séria do que pensa, ou por diversos outros motivos. Coma sabida proliferação de remédios falsificados, com certeza muita gente deverá pensar duas vezes antes de retirar produtos nas prateleiras das farmácias, porque acima de tudo as pessoas têm medo de que lhes acontece o pior - e por isso tomam remédios...

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