Desinteresse moral e material

Francisco Muniz
(publicado originalmente no informativo Mediunato, do C. E. Deus, Luz e Verdade, em junho de 2009)

No capítulo XXVI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, sob o título "Dai de graça o que de graça recebestes", Allan Kardec chama a atenção para a prática do intercâmbio espiritual dizendo que "as principais condições para harmonizar a benevolência dos Espíritos são: a humildade, o devotamento, o mais absoluto desinteresse moral e material". O Codificador ainda grifa as duas expressões, reforçando o pensamento segundo o qual os médiuns espíritas devem ter a mente e o coração livres de todo empeço ao pleno exercício da faculdade mediúnica. Cá para nós, é perfeitamente compreensível o alerta quanto ao desinteresse material, uma vez que é desnecessário, absurdo mesmo, ir a uma sala mediúnica em busca de ganhos materiais, ainda que no início a maioria dos médiuns tenha chegado à casa espírita motivados por circunstâncias de ordem material, quais os comprometimentos físicos, mesmo que gerados por problemas espirituais inconscientes. Mas o aviso sobre o desinteresse moral merece ser analisado mais detidamente, porque quando queremos servir na obra divina com amor estamos imbuídos dos mais sinceros propósitos e dizemos querer fazer o bem os espíritos encarnados ou desencarnados, principalmente. Mas será assim mesmo?
De acordo com o pensamento de Kardec, nem mesmo esse desejo deve ser abrigado no íntimo do médium - o de querer fazer o bem -, e ele, o Codificador, informa a razão disso, no tópico sobre a mediunidade gratuita (itens 7 a 10, fechando o citado capítulo XXVI), afirmando que o próprio médium não é senhor de sua faculdade e que a mediunidade é neutra, não sendo o médium que dela se serve, mas os Espíritos. Não é por acaso, então, que muitas vezes ouvimos dirigentes espirituais de nossas reuniões mediúnicas dizerem que não vamos à sala fazer, como pensamos, mas receber caridade. Por isso devemos pensar melhor a respeito de nosso labor mediúnico, porquanto nos diz Allan Kardec que "a mediunidade é uma faculdade santa e deve ser praticada santamente, religiosamente". Assim a postura do médium, especialmente daquele que está iniciando no exercício de sua faculdade, deverá ser a da neutralidade a mais completa possível, a fim de obter o sucesso que se espera. Porque é muito comum, nesses momentos, o médium, em vez de se entregar com confiança, ao labor junto aos Espíritos, ficar imaginando situações, duvidar da presença das entidades espirituais ou simplesmente dar vazão a sua fé e se postar em oração enquanto aguarda uma possível comunicação...
Conforme se depreende do comentário do Codificador, o médium deve ser mesmo um instrumento para a ação dos Espíritos. Nesse sentido, precisa ser um instrumento o mais afinado possível. Deve, também, ser o canal através do qual as águas da Espiritualidade se derramem sobre as necessidades alheias, suavizando dores e consolando aflições. Para tanto, esse canal deverá ser o mais limpo possível, para que essas águas alcancem seu objetivo a contento.

Comentários

  1. Chico. Quanto mais estudo sobre a mediunidade, mais confusa fico."ou simplesmente dar vazão a sua fé e se postar em oração enquanto aguarda uma possível comunicação" ????

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  2. Jô, a questão, sempre, no que toca à nossa relação com a Divindade e seus prepostos - os Espíritos do Senhor - é o desapego. Vou apenas relatar aqui uma historinha pra que vc entenda melhor:

    "ESVAZIAR O POTE

    - Senhor, todos os mestres destacam a graça divina como força decisiva para que se possa obter o moksha (*). Por que, então, é necessário tanta disciplina por parte do aprendiz?
    - Ninguém - respondeu o mestre - pode recolher água num pote cheio. É preciso esvaziá-lo."

    (*) Moksha, em sânscrito, significa "libertação definitiva do ciclo de reencarnações".

    Conversemos mais, tá?

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