Música & mensagem

Francisco Muniz

Atlântida
(Rita Lee e Roberto de Carvalho)

Atlântida, reino perdido de ouro e prata
Misteriosa cidade
Atlântida, terra prometida dos semideuses
E das sereias douradas

Eu sou o pescador que parte toda manhã
Em busca dos tesouros perdidos
No fundo do mar

Desde o Oiapoque até Nova Iorque se sabe
Que o mundo é dos que sonham
Que toda lenda é pura verdade

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Os cientistas ainda não têm certeza de que os "continentes perdidos" de Atlântida, Mu e Lemúria realmente existiram na Terra, apesar da convicção que parece mover os esotéricos que afirmam o contrário. Assim, tudo não passaria de lenda, por enquanto. Seja como for, a música de Rita Lee resgata do fascínio que permeia a cultura ocidental sobre as origens do homem, principalmente quanto ao que se configura como o "paraíso perdido", dando conta da saudade que o espírito sente de sua verdadeira pátria.
No início do século XX, o sensitivo norte-americano Edgard Cayce (1877-1945) descreveu, em 1932, durante um transe mediúnico, os derradeiros dias de um mundo há muito desaparecido, cujos habitantes remanescentes, que teriam escapado ao terrível cataclismo que devastou a suposta ilha-continente de Atlântida, vieram dar na terra hoje conhecida como Yucatán, no México. Séculos antes de Cayce, entretanto, o filósofo Platão, discípulo de Sócrates, já narrava a existência, 9.200 anos antes de seu nascimento, de uma terra maravilhosa cujo povo vivia numa harmonia tal que "eles era a expressão da gentileza associada à sabedoria".
No entanto, diz Platão, nas obras "Timeu" e "Crítias", os atlantes estavam "tomados por um poder e uma ambição ilegítimos" e disso resultou que já não mais colocavam a bondade acima das riquezas materiais e tal estado os fez perderem a virtude e a clemência dos deuses. Terremotos e inundações destruíram, então, todo o poderio atlante em apenas um dia e uma noite, segundo o relato platônico. O filósofo, prudente em sua narrativa, declarou não acreditar que algum dia se encontrasse qualquer vestígio da antiga potência.
"Naquele local, o oceano tornou-se agora intransponível e insondável", ressaltou o discípulo de Sócrates. Mas se é mesmo certo que "toda lenda é pura verdade", é preciso ver, primeiro, como enxergar essa verdade, procurando o "paraíso perdido" onde ele realmente possa estar. Neste ponto damos a palavra a Allan Kardec, transcrevendo o que o sábio lionês registrou em A Gênese, no capítulo referente ao trema em tela.
"Para lançar luz sobre todas as partes da gênese espiritual", diz o Codificador, "foram necessários os conhecimentos que o Espiritismo trouxe, demonstrando as relações entre o princípio espiritual e o princípio material, a natureza da alma, sua criação no estado de simplicidade e ignorância, sua união com o corpo, sua marcha progressiva indefinida através de existências sucessivas, e através de mundos que são outros tantos degraus na via do aperfeiçoamento, seu gradual livramento da influência da matéria mediante o uso de seu livre-arbítrio, a causa de suas inclinações boas ou más, assim como de suas aptidões, o fenômeno do nascimento e da morte, o estado do Espírito na erraticidade, enfim, o futuro que é o prêmio de seus esforços pra sua melhoria e de sua perseverança no bem.
"Graças a essa luz, o homem sabe doravante de onde vem, para onde vai, por que está sobre a Terra e por que sofre; sabe que seu futuro está entre suas mãos, e que a duração de seu cativeiro aqui embaixo depende dele. A Gênese, tirada da alegoria estreita e mesquinha, lhe aparece grande e digna da majestade, da bondade e da justiça do Criador. Considerada sob esse ponto de vista, a Gênese confundirá a incredulidade e vencerá."

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(Extraído da revista Visão Espírita n. 19 - Ano 2 - Dezembro.1999.)

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