Espírito sexólatra

Francisco Muniz
(publicado originalmente na revista Visão Espírita n.° 11 - Ano I - Fevereiro.1999)

Dá muito "ibope" falar de temas paranormais, atualmente, e programas de televisão de cunho popular têm sabido aproveitar esse filão, embora seja mais para fazer escândalo proselitista do que para esclarecer às mentes desejosas de explicação acerca dos fenômenos extrafísicos. O mais recente (1999) desses "escândalos", veiculado no "Programa do Ratinho, do SBT, diz respeito a uma viúva que afirma receber frequentemente, à noite, a visita do marido desencarnado para práticas sexuais.
Com relação a esse fato, ao questionamento que certamente se está fazendo no Brasil, "será isso possível?", respondemos que sim, que essa mulher pode realmente estar falando a verdade, a despeito de ser notório que o citado programa já sofreu críticas e inclusive foi penalizado judicialmente por apresentar casos forjados com o fim de comover ou escandalizar a opinião pública. "O escândalo é necessário, mas ai daquele por quem vier o escândalo", ensina-nos o Mestre Jesus, que também nos orienta a sermos, em relação a tudo, "mansos como a pomba e prudentes como a serpente".
Caso seja mesmo verdadeira a história contada pela tal viúva e alardeada para todo o Brasil pelo apresentador Carlos Massa, o Ratinho, demonstra que o tal espírito ainda está bastante apegado à matéria e entregue às paixões sensuais, que só o corpo físico pode proporcionar, de tal modo que não lhe basta simplesmente ficar ao lado daquela que foi sua mulher em vida, mas procura fazer-se sentir ostensivamente, vampirizando os fluidos com que satisfaz seus instintos, através do sexo.
O contato sexual entre encarnados e desencarnados é antigo na história do mundo, de acordo com os relatos das tradições religiosas, que nos informam sobre súcubos e íncubos, seres considerados "demoníacos" que visitavam, sempre à noite, homens e mulheres, respectivamente, para o intercurso sexual. Conforme os registros, por vezes esses contatos se revestiam de intensos prazer; por outras, eram bastante desagradáveis para as "vítimas" que, confessando-os a um padre, não raro eram submetidas a rituais de exorcismo.
A julgar pela "disposição" com que o marido desencarnado da viúva comparece ao quarto dela, sempre no mesmo horário, evidencia-se um compromisso entre eles e talvez ela também sempre estivesse, mesmo que inconscientemente, ansiando por esses encontros, que perduram, segundo a viúva, há cinco anos. É possível, também, que o casal tenha tido um relacionamento tão satisfatório que essas "alegrias" simplesmente tenham se mantido no além-túmulo, não obstante o espírito em questão esteja ignorante de seu estado de desencarnado.
Em O Livro dos Espíritos, síntese da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, os Espíritos Superiores esclarecem que "somente os espíritos inferiores podem lamentar as alegrias que se harmonizam com sua imperfeição e que expiam pelos seus sofrimentos". Dizem, ainda, que "para os espíritos elevados, a felicidade eterna é mil vezes preferível aos prazeres efêmeros da Terra".
Dois aspectos interessantes devem ser levados em conta nesse caso: 1 - a mulher não é espírita, mas evangélica; e 2 - embora se ocupe de tais fenômenos, para explicá-los através da lógica e do bom senso, o Espiritismo não patrocina o sensacionalismo em torno desses episódios, porquanto os envolvidos são vistos como irmãos enfermados a merecerem bem mais compaixão que execração.

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