À beira do abismo...

Francisco Muniz

Há, na vida, pessoas às quais nos afeiçoamos e, em vista de suas necessidades pessoais, queremos ajudar, tomando suas mãos e conduzindo-as no caminho que parece-nos o da salvação. E lastimamos que essas tentativas por vezes resultem improfícuas, por não recordarmos, talvez, que não nos cabe salvar ninguém, que essa é uma tarefa eminentemente individual e que forçar alguém a agir como gostaríamos é ferir o livre-arbítrio alheio.
Embora nos cause dor ver tais pessoas caminharem na direção do precipício, incapazes de enxergar ou mesmo vendo o perigo adiante, é necessário deixá-las prosseguir, pois é direito de cada um traçar os próprios rumos, a despeito de todo conselho e todos os avisos. Não terá sido assim conosco no passado? Não desprezamos muitas vezes a orientação dos próprios pais, por considerá-la incompatível com nossos interesses do momento? Pois com essas pessoas queridas acontece o mesmo, ressalvadas as proporções, uma vez que nossa preocupação é semelhante à que os pais manifestam para com os filhos.
O que elas fazem, portanto, é a própria experiência motivada pelas escolhas pessoais que, mesmo trazendo aparentes prejuízos, enriquecerá as respectivas trajetórias evolutivas. Desse modo, contabilizarão os erros e acertos para que no tempo propício possam despertar a consciência que clarificará os novos rumos, identificando os objetivos mais consentâneos com a necessidade de aperfeiçoamento.
É preciso, pois, agirmos pacientemente, confiando sobretudo em que a Misericórdia Divina, atenta a tudo e a todos, não esquece de ninguém e que um dia essas pessoas decidirão caminhar ao nosso lado. Tal não-ação, para nós, resultará em aquisição de sabedoria, condutora infalível da consciência que nos indicará o momento de interferir ou o de somente acompanhar, posto que a indiferença castradora dos bons empreendimentos relacionais já não existirá em nós...

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