"Uma alma vestida de ar"


Francisco Muniz

No grupo Amigos Espíritas do Facebook registrei, secamente, uma frase do astrônomo francês Camille Flammarion, espírita de boa cepa, ao ver uma jovem tomando banho ao ar livre, por ocasião de um passeio no campo: "É uma alma vestida de ar!", disse o autor de “Urânia”, livro de onde a frase foi destacada. Como poucas postagens na rede social passam despercebidas, os amigos Alvaro Figueiredo e Cleo Pinheiro fizeram comentários. Entusiasta da língua inglesa, que costuma misturar com expressões em português em suas postagens, Alvinho referiu-se ao dito de Flammarion nestes termos: “So parnasiano...!!!” (a palavra “so”, em inglês pode ser traduzida como “tão”, neste caso). Cleo seguiu pelo mesmo caminho apontado por Alvinho e comentou: “Que romântico”. Estimulado por esses comentários, aproveitei para fazer um adendo à guisa de explicação: “Parece romântico - e até parnasiano - mas é simplesmente científico (será que essa palavra perde em poesia?). Quando Flammarion disse isso, ele fazia digressões filosóficas acerca da vida em outros mundo, sobre como seriam os espíritos que habitam outras esferas e, consequentemente, qual é nossa real natureza. Ele concluiu então que, tirando tudo que seja matéria em nós, sobraria então o espírito inefável em sua roupagem etérea - daí essa moça ser "uma alma vestida de ar"... Como vemos, o encanto não se perdeu, né? Ciência também pode ser poesia - vide Augusto dos Anjos”.

Quem foi Camille Flammarion? Astrônomo chefe do Observatório de Paris no final do século XIX, Flammarion foi contemporâneo de Allan Kardec e coube a ele fazer o discurso de despedida quando o os restos mortais do Codificador foram sepultados em definitivo no Cemitério Pére Lachaise, em Paris, em 1869. Nessa ocasião, Flammarion declarou que Kardec tinha sido, em vida, “o bom senso encarnado”. Homem de ciência, não foi difícil para ele compreender e aceitar os princípios espíritas, posto que também médium, tendo na Doutrina dos Espíritos encontrado muitos recursos para responder suas inquietações científicas, chegando a declarar que a Astronomia seria a religião do futuro, uma vez compreendendo que o Homem encontrará no Espaço a resposta para as eternas indagações da Filosofia: quem sou?, de onde venho?, para onde vou? Como espírita, deixou patenteadas em vários livros suas reflexões acerca da vida espírita tanto na Terra quanto fora do planeta, a exemplo de obras como “Narrações do infinito”, “Urânia” e “Deus na natureza”, dentre outros, os quais todo estudioso do Espiritismo deve conhecer.

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