Testamentos

Francisco Muniz

A cada terça-feira tenho, como diz uma amiga, meu dia especial. É quando desenvolvo atividades na Casa Espírita que aceita minha colaboração - o C. E. Deus, Luz e Verdade, permitindo-me, mercê da autorização do Alto, atuar na coordenação de uma turma do grupo de estudos, no estudo público do Evangelho e numa reunião mediúnica fechada. Pode parecer pouco, mas isso exige três vezes mais dedicação e preparo, o que faço convidando a turma do grupo de estudo para uma atividade prática que consiste na visita a instituições caritativas que nos permitem compreender o que os livros de fato nos querem dizer sobre a necessidade de fazer o bem incondicionalmente.
Uma dessas instituições é o abrigo de idosos Lar Irmão José, onde fizemos alguns amigos, especialmente D. Antonia, a quem considero uma mãe, e Antonio Carlos, um jovem de 74 anos que ontem (4 de abril) fez aniversário. Antes de ir parar ali, Antonio dava aulas de Filosofia e agora, com seus movimentos e voz limitados talvez por um AVC, encontra companhia nos livros que adora ler, mantendo assim sua mente sempre ativa, movida pelas inquietações de um verdadeiro investigador das peculiaridades da vida, tanto neste quanto no outro plano da existência, uma vez que ele é identificado com a Doutrina Espírita, o que nos deixa à vontade para tratar de temas transcendentais.
Assim é que em nossa última visita, nesta "terça-feira santa", dia 3 de abril, após cantarmos os parabéns com que homenageamos seu natalício, falamos sobre o Evangelho e o ouvimos comentar, emocionado, sobre sua grande certeza na vida: a de que "meu reino não é deste mundo", conforme revelou o Cristo Jesus há mais de dois mil anos. Para corroborar suas palavras, Antonio Carlos afirmou já ter lido as duas partes da Bíblia, o Velho e o Novo Testamentos. Ao ouvi-lo, propus-lhe um enigma, à guisa de brincadeira: "Então você já sabe com quem fica a fortuna, não é?" E ele devolveu  no mesmo tom, com seu jeito bem-humorado: "Com o testamenteiro".
Ele tem razão, a julgar pelo que podemos concluir das leituras das obras que nos falam da Verdade, a exemplo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em sua lição acerca da verdadeira propriedade, informando que o homem só tem de seu o que leva para o mundo espiritual. Tudo o mais é de Deus e a Inteligência Suprema dispensa seus bens a todos os seus filhos, mais a uns que a outros, para que eles aprendam a  multiplicá-los dividindo-os. Desse modo, quem não tem sempre terá alguma coisa; quem tem pouco sempre terá um pouco mais; e quem tem muito, sempre mais terá. Tal é a economia espiritual explicada pelo Cristo, quando disse que "ao que tem se lhe dará, mas ao que não tem até o que tem lhe será tirado", simplesmente porque não soube dividir, retendo como seu o que lhe foi dado por empréstimo.  

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